Gilberto Gil é xingado por torcedores brasileiros no Qatar em estádio da Copa

Vídeo mostra momento em que homens gritam palavrões e mencionam Lei Rouanet para o artista a caminho da partida

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São Paulo

O cantor Gilberto Gil, de 80 anos, e a empresária Flora Gil, de 62 anos, foram hostilizados por torcedores brasileiros no Qatar, no momento em que caminhavam em um corredor para assistir a partida entre Brasil e Sérvia no estádio Lusail, na quinta-feira.

Em postagens de protesto contra a atitude dos torcedores que ofenderam o casal, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, compartilharam o vídeo mostrando o momento e pediram que os responsáveis sejam identificados e punidos.

O músico Gilberto Gil - Eduardo Anizelli/Folhapress

"Vamo, Lei Rouanet", gritou um dos homens. Ele estava com um copo na mão, vestido com a camisa da seleção e usava um chapéu verde e amarelo estilizado no momento em que Gil e Flora caminhavam em direção ao estádio. O casal estava acompanhado da empresária Lilibeth Monteiro de Carvalho.

Um dos homens que aparece no vídeo é o empresário Ranier Felipe dos Santos Lemache, que usa uma camisa da seleção brasileira com o número 40 e o nome "Papito Rani" gravados nas costas. Ele é sócio de diversas filiais das redes Domino’s Pizza e Spoleto espalhadas pela cidade e pelo estado do Rio de Janeiro.

Em sua página no Facebook, Ranier já fez comentários contrários ao PT, partido de Lula, que foi apoiado por Gil na eleição deste ano. Em 2018, ele pediu "PT nunca mais" e publicou que "quando o seu ódio pelo Bolsonaro é maior do que seu ódio pela corrupção, o problema não está nos políticos, está em você".

Este ano, na noite da votação do segundo turno da eleição, Ranier escreveu que "o Brasil é maior que a nossa divisão política. Que possamos ter paz e harmonia nos próximos anos. Deus acima de tudo. Empatia para todos!!!".

Após ouvir a provocação, Gil, Flora e Monteiro de Carvalho pararam por alguns segundos e depois seguiram caminhando. No vídeo, é possível ouvir vozes mencionando o nome do presidente Jair Bolsonaro, do PL, e falando palavrões em direção ao cantor, que não reagiu.

Também vestido com a camisa da seleção, outro torcedor abordou Gil e fez um selfie enquanto o grupo ouvia as ofensas.

Além de Flora e Monteiro de Carvalho, Gil foi para o Qatar para assistir a jogos da Copa acompanhado dos netos Francisco Gil e João Gil. Neste sábado, eles viram a vitória da Argentina contra o México por dois a zero.

O senador Randolfe Rodrigues, da Rede, do Amapá, que já recebeu ameaças pelas redes sociais, prestou solidariedade a Gil e criticou os torcedores que o hostilizaram de criminosos.

"Um artista de 80 anos sendo vítima de golpistas. Vamos denunciar e cobrar punições da Fifa. Já passou da hora de essa gente ir para o lugar que merece, a cadeia", disse.

O deputado federal André Janones, do Avante, de Minas Gerais, também compartilhou o vídeo e afirmou que a nova onda da extrema direita é cometer crimes.

"É terrorismo, ameaça, injúria. O crime foi filmado, aparentemente o bandido se orgulha do que fez com Gilberto Gil, de 80 anos de idade, a quem presto toda a minha solidariedade."

Gil depois fez um vídeo comentando os ataques. "Nossos agradecimentos, meu e da Flora, enfim por essa solidariedade diante dessa agressão, dessa coisa estúpida", ele afirmou.

Nas redes sociais, artistas como a atriz Leandra Leal e o ator e escritor Ivam Cabral prestaram solidariedade.

"Uma das coisas que mais me deixa feliz em ser brasileira é ser do mesmo país que Gilberto Gil", escreveu Leal. "Gil é um gênio, um dos maiores artistas, ativistas, um ser iluminado".

"Gilberto Gil é um dos artistas mais incríveis do planeta. Seu legado é de uma grandeza extraordinária. Esse cidadão que o ofendeu certamente está na categoria dos deploráveis e deve ser muito infeliz porque não tem poesia em sua vida", opinou Cabral.

Caetano Veloso, parceiro e amigo de Gil, escreveu que o artista foi injuriado por bolsonaristas. "Quero prestar solidariedade ao gênio Gil e dizer que nós, os artistas, assim como a verdadeira sociedade, esperamos que os criminosos sejam punidos".

A cantora Preta Gil pediu respeito ao pai e disse que a agressão verbal no Qatar foi assustadora. Ela escreveu que a família está acostumada a conviver e a respeitar as diferenças, sem ameaçar ou ser ameaçada.

"Eu realmente acho que nem todo eleitor do Bolsonaro seja a escória da humanidade, mas esse infelizmente é e o que fez com meu pai foi tão agressivo, tão nojento, tão violento que devemos sim nos revoltar."

Já a cantora Daniela Mercury prometeu foto, abadá e ingresso para shows a quem revelar a identidade do homem que xingou Gil.

Ex-ministro da Cultura no governo Lula, Gil apoiou a eleição do ex-presidente para o terceiro mandato.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, em julho, quando estava em turnê musical na Europa, o cantor e compositor afirmou que a eleição de Bolsonaro em 2018 significou uma regressão para o Brasil.

"Mas o que esperar de uma pessoa que prefere abrir um clube de tiro a uma biblioteca? É uma visão de mundo retrógrada, reacionária, que não quer viver na agilidade do futuro e nos permanentes desafios que isso implica", afirmou.

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