Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Descrição de chapéu sustentabilidade

Sermos inclusivos nos permitiu dobrar de tamanho, diz CEO da PepsiCo

Alexandre Carreteiro comanda unidade no Brasil, a mais produtiva e destaque em participação de mulheres e negros

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São Paulo

Alexandre Carreteiro está há três anos na presidência da PepsiCo Brasil, unidade que foi considerada a mais produtiva do mundo por dois anos consecutivos.

Resultados que o executivo de 47 anos credita a uma estratégia de tornar mais diversa e inclusiva a companhia que completou 70 anos no país em 2023. "Dobramos de tamanho nos últimos quatro anos", diz, ao relatar que multiplicou por dois também o número de mulheres no comitê executivo.

A presença de lideranças femininas no alto escalão passou de 30% para 60% entre 2018 e 2023, enquanto mulheres em postos de comando em geral subiu de 41% para 50%.

Homem branco sorri paar foto sentado em uma sala na penumbra
Alexandre Carreteiro, presidente da PepsiCo, está à frente da unidade brasileira há três anos, considerada a mais produtiva do mundo e referência em inclusão - Danilo Verpa/Folhapress

O percentual de negros na liderança também cresceu, passando de 15% para 25% no mesmo período. A meta é chegar a 30% em 2025. "Tem que ter intencionalidade", afirma o CEO em entrevista à Folha.

Resultados que levaram a PepsiCo a ser reconhecida como a empresa mais inclusiva no setor de bens e alimentos conforme a Pesquisa Ethos de Inclusão 2023.

Fundador do Mover, que reúne 49 CEOs comprometidos em aumentar a representatividade negra nas empresas, Carreteiro participou de processos de mentoria reversa, em que seu mentor foi um funcionário gay, negro e budista.

"A liderança tem que estar envolvida. Não é uma coisa só de RH. É mudar a cultura. Temos treinamentos em letramento racial, de viés inconsciente e antimachismo."

Que marcos destacaria nesses 70 anos da PepsiCo no Brasil?
Nos Estados Unidos, a Pepsi tem 125 anos. Iniciamos aqui com a bebida Pepsi em 1953. Em 1974, fizemos a aquisição da American Chips e da Elma Chips. Depois, entraram no nosso portfólio aveia Quaker e água de coco, com Kero Coco.

A nível mundial, nosso portfólio é 55% alimentos e 45% bebidas. No Brasil e na América Latina, é de 90% alimentos e 10% bebida. São 70 anos no Brasil e estamos bem felizes com uma estratégia muito forte de colocar ESG no coração de tudo que fazemos.

Há dois anos, desenvolvemos a PepsiCo Positive (pep+), com três grandes iniciativas: agricultura sustentável, cadeia de valor sustentável e escolhas positivas.

Como foi essa virada de empresa de bebidas para o agro?
Compramos 450 mil toneladas de produtos agrícolas por ano e 99% do que vendemos no Brasil vêm da agricultura brasileira.

Temos parcerias com produtores de batata há mais de 40 anos, com sementes exclusivas adaptadas ao clima. Temos parcerias também na produção de aveia e milho. Coco é uma exceção, com duas fazendas próprias.

Como induzir sustentabilidade no agro?
Já temos 100% da nossa agricultura sustentável. Trabalhamos com parcerias de longo prazo para assegurar que o plantio seja feito da melhor maneira, que a terra seja bem irrigada com as técnicas mais modernas. Temos uma tecnologia superdesenvolvida no campo, com monitoramento por drones.

Estamos trabalhando para sermos regenerativos. Nas plantações de coco, nos demos conta de que para o uso da terra ser mais eficiente deveria ter um outro plantio associado. Fizemos uma parceria para plantar cacau, que precisa de sombra, debaixo dos coqueiros.

É a lógica da agrofloresta?
Sim. Essa lógica de entender o que é melhor para a terra e para o plantio. Melhorou o rendimento. É uma agricultura que já é regenerativa, com menos emissão de CO2 e menor consumo de água.

Como reduzem o desperdício de água na agricultura?
Com técnicas de irrigação muito mais precisas. Temos vários trabalhos no nosso centro de pesquisa e desenvolvimento para diminuir o consumo de água. E não guardamos para a gente.

Temos duas "demo farms", em Goiás e em São Paulo, onde fazemos demonstração de tudo isso, trazemos novos parceiros para ver técnicas e tecnologias. É um showroom real.

E como tem sido a transformação da cadeia de valor?
Estamos colocando em nossas fábricas uma membrana biorreativa para filtrar e reutilizar toda a água. Há três anos, implementamos em Itu, onde hoje praticamente não utilizamos uma gota da municipalidade.

A água lá é totalmente reutilizada. Somos pioneiros no Brasil com esse sistema já replicado nas unidades de Sete Lagoas e Curitiba.

O investimento de US$ 3 milhões a US$ 4 milhões por fábrica não é pequeno, mas é extraordinário. Contribuímos para os lençóis freáticos dessas regiões com desafios hídricos, ao otimizar o consumo e ter autonomia hídrica.

Estamos investindo em caminhões elétricos. Já temos 150, numa frota de mais de 4.500. Nosso compromisso é substituir por veículos elétricos ou movidos a energia alternativa.

Temos um projeto grande de energia solar para reduzir emissões de CO2 até 2030. A estratégia de pep+ é global, mas o Brasil tem a possibilidade de ser referência e uma potência de ESG. Estamos trabalhando para que seja.

O Brasil tem a possibilidade de ser referência e uma potência de ESG

Alexandre Carreteiro

presidente da PepsiCo

Onde avançaram mais?
Hoje 100% das nossas embalagens são coletadas e encaminhadas para cooperativas de reciclagem. O plástico flexível das embalagens de snacks reciclamos em produtos como baú de caminhão e mesas e racks para pontos de venda.

Tem uma economia circular acontecendo. Já estamos trabalhando para ter essa embalagem de volta como embalagem primária. A legislação não permite, mas acredito que em breve chegaremos lá.

A questão é segurança alimentar?
A União Europeia já permite. Isso é outra revolução. Quanto mais valor tiver na reutilização, mais interesse na coleta.

O que seriam escolhas positivas do pilar ESG da companhia?
Diversidade, equidade e inclusão. De novo, o Brasil é uma grande potência aqui. Temos uma diversidade populacional grande e o que queremos é poder internamente representar a sociedade.

Temos planos e grupos de afinidade de mulheres, negros, comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiências, e "Golden Years", para os acima de 50 anos. Cria-se assim uma cultura de acolhimento para que as pessoas possam atingir o seu máximo potencial e serem respeitadas pelo que são.

Quais são os ganhos e os desafios para ser uma empresa inclusiva?
Isso não vem por acaso, tem intencionalidade. Todos nós temos metas. A liderança tem que estar envolvida. Não é uma coisa só de RH. É mudar a cultura.

Temos mentorias, treinamentos em letramento racial, de viés inconsciente e antimachismo. E mentoria reversa, de negros fazendo mentoria para o comitê executivo.

Como é na prática?
Eu tive um mentor que é gay, negro, budista e trabalha na linha de produção. É supervisor. Foi um aprendizado incrível, que nos permite ter um olhar diferente.

Temos programas de treinamento 100% afirmativos para negros. No ano passado, uma trainee apontou que as toucas usadas na linha de produção eram do mesmo tamanho. Um negro que quer ter um afro não conseguiria usar. Buscamos toucas inclusivas de um fornecedor que é um empreendedor negro.

E onde trabalha o seu mentor hoje?
Continua com a gente, mudou para outra fábrica. Aprendi com ele a ser muito mais sensível a essas questões. Espero que algum dia o meu sucessor possa ser um negro.

Trabalhei mais de 25 anos no setor de alimentos e bebidas. É importante escutar as pessoas e tenho orgulho dos 11 mil colaboradores da PepsiCo nessa grande jornada de diversidade e inclusão.

Onde é mais difícil incluir negros e mulheres?
Na fábrica, 50% são mulheres. Temos até linha de produção com 100% de mulheres, mas em operações e vendas é um pouco mais difícil.

Não tínhamos nenhuma mulher motorista de caminhão. Nas empilhadeiras, tínhamos 9% e chegamos a 35%. Foram mais de 200 mulheres recrutadas e elas estão superfelizes.

É um desafio contínuo. A cultura vai mudando ao longo do tempo. E tem falhas. Se uma pessoa se sente desrespeitada, ela tem uma hot line parar fazer denúncia, que vamos apurar de maneira independente e confidencial.

Como todas essas ações impactam o negócio em si?
Sermos mais inclusivos nos permitiu dobrar o tamanho do nosso negócio nos últimos quatro anos. Temos crescido a nossa participação de mercado e inovado muito mais.

Nos últimos cinco anos, expandimos nossa penetração e chegamos a 92% dos lares brasileiros.

Colocamos a diversidade na nossa comunicação. Lançamos o Doritos Rainbow há sete anos, uma homenagem à comunidade LGBTQIA+. Apoiamos colaboradores que querem mudar sua identidade de gênero. É muito importante que as marcas possam veicular essas mensagens e apoiar causas.

Queremos ir além da Pepsi com nossa visão ESG. Criamos o Mover, um movimento pela equidade racial que festeja dois anos agora, para impactar 3 milhões de negros até 2030.

No começo do Mover éramos 7 CEOs, hoje somos 49 e mais 80 empresas querem entrar no movimento, que é uma referência global. Queremos recrutar 10 mil líderes negros. Somos concorrentes e nos unimos por uma causa muito maior.

Estamos fazendo a mesma coisa com outras empresas para acelerar a reciclagem e o combate à fome. Acredito que no futuro são esses tipos de parcerias que vão mexer a sociedade.

Aumentou o investimento?
Investimos R$ 1,2 bilhão neste ano, três vezes mais em relação a 2020. O Brasil é um dos países na América Latina que mais se destacaram.

Estamos entre os dez maiores mercados da PepsiCo no mundo. Investimos em capacidade produtiva, inovação e sustentabilidade. Em tecnologia no agro e nas fábricas sem papel.

A indústria de alimentos está na berlinda pelos ultraprocessados. Como vender saúde e salgadinhos?
Essa pressão não é de hoje. Reduzimos sódio em praticamente 50% nos últimos dez anos. Nosso produto está muito abaixo das exigências da Organização Mundial da Saúde.

Temos esse compromisso de continuar reduzindo sal e açúcar. Migramos para um óleo muito mais saudável à base de canola e girassol. Temos no portfólio água de coco, totalmente natural, e aveia, um produto sensacional.

Como recebe a notícia de que a procuradora-geral de Nova York autuou recentemente a Pepsi por poluir o rio Buffalo com plástico?
Como é um caso jurídico não vou comentar. A gente tem um empenho grande de trabalhar esses temas como empresa junto com o Ministério Público. Trabalhando aqui eu posso ver a intencionalidade em temas que não são fáceis e precisam do envolvimento de muitos stakeholders. Temos sim uma responsabilidade e estamos fazendo a nossa parte para continuar evoluindo.

Também foi noticiado que a Pepsi está prestes a superar a Coca-Cola, concorrente histórico, em valor de mercado nos EUA.
É um tema sempre que tem muita discussão. Nós temos alimentos e bebidas e essa é a beleza do nosso portfólio, uma amplitude que acaba entrando em muitos momentos de consumo ao longo do dia. E isso tudo tem a ver com colocar o ESG no coração da estratégia.

Uma empresa diversa e inclusiva é mais eficiente. Conseguimos comprovar que tendo essa representatividade inova-se mais rápido. É bom para o negócio, para a sociedade e para o planeta.

E quando recebemos prêmios como o de ser durante dois anos a unidade mais produtiva da Pepsi no mundo isso nos estimula.


Alexandre Carreteiro, 47
Formado em administração de empresas pela Temple University, Filadélfia, com MBA pelo IESE Business School, na Espanha, e mestrado em finanças pela Université Paris IX Dauphine. Preside a PepsiCo Brasil Alimentos desde março de 2021, depois de passagens por Danone e Nestlé

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