Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Descrição de chapéu sustentabilidade Itaú

'Combate de crise climática e desigualdade é oportunidade para uma nova economia'

Marcelo Furtado, head de sustentabilidade da holding Itaúsa, leva experiência no Greenpeace e na filantropia para arquitetar a transição para uma economia de baixo carbono

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São Paulo

O combate à crise climática e às desigualdades pode ser encarado também como oportunidade de negócios, a partir de uma estratégia de inteligência ESG.

Essa visão norteia a criação do Instituto Itaúsa, lançado na segunda-feira (25), em evento no Masp, em São Paulo, segundo Marcelo Furtado, head de sustentabilidade da maior holding de investimentos com capital aberto do país.

Ex-dirigente de ONGs, como Greenpeace, e institutos, como Arapyaú, o executivo destacou os pilares de atuação da área que comenda há sete meses, diante dos desafios de superação das crises do clima, da natureza e da desigualdade no país.

Marcelo Furtado, head de Sustentabilidade da holding Itaúsa, no lançamento do Instituto Itaúsa, na noite de segunda-feira (25), no Masp, em São Paulo - Divulgação

"A área de sustentabilidade na Itaúsa tem duas vertentes. Uma que está olhando para o portfólio ESG, para as investidas e para novos negócios, o que chamo de inteligência ESG. E outra é a criação do instituto, que tem um valor muito estratégico", explica.

O Instituto Itaúsa nasce entre os maiores do país, com orçamento anual de R$ 50 milhões. Leva o nome da holding que detém participações de empresas como Itaú Unibanco, XP, Alpargatas, CCR, Copa Energia, Dexco e Aegea.

A ideia é contribuir para soluções e buscar oportunidades para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, diz Furtado, com foco na conservação do meio ambiente e no binômio sustentabilidade & produtividade.

Como se estrutura a área de sustentabilidade da holding? Temos duas vertentes. Uma que olha para o portfólio ESG da Itaúsa, para as investidas e os novos negócios. O que chamo de inteligência ESG. E outra é a criação do instituto, que tem um valor muito estratégico.

O novo instituto é uma grande contribuição que a Itaúsa está dando para a sociedade brasileira, apoiando conhecimento e projetos, mas que também funciona como escuta, o que é importante para o Brasil e para alimentar as decisões estratégicas sobre como direcionar novos investimentos.

Como pretendem atuar? Entendendo que temos três grandes desafios: a crise climática, a crise da natureza e a crise da desigualdade. Olhar como vamos lidar com isso também gera oportunidades. Onde estão as oportunidades de negócio olhando para a transição de uso do solo, sistemas alimentares e águas?

De um lado, contribuímos para a solução. E do outro, enxergamos que essa nova economia positiva para clima, natureza e pessoas vai trazer também prosperidade e geração de emprego e renda.

Você está falando de economia de baixo carbono? Exatamente. Essa é a orientação para onde os investimentos da Itaúsa deverão ir.

Qual é o orçamento do instituto? É uma operação programada para fazer um investimento de R$ 50 milhões por ano. O que nos coloca na realidade da filantropia brasileira entre grandes institutos do país. O mais importante dessa conversa é não ser apenas um grantmaker, que vai fazer contribuição em conhecimento, advocacy e projetos.

O instituto vai nos permitir aprender e evoluir para integrar esse conhecimento e essa experiência na prospecção de novos negócios, que farão e fazem parte dessa economia em transição no país.

É estratégico também por ser uma holding? Esse lugar de holding é interessante por não estar na ponta operando, mas olhando como investidor para onde a economia se direciona. Diferentemente de modelos do passado, onde se criava um braço filantrópico, a visão é mais contemporânea. Não só existe o interesse genuíno de dar uma contribuição para a sociedade, mas de efetivamente entender essa nova economia. Entender onde estão as oportunidades de negócio para fazer os investimentos necessários para a transformação.

Quanto de investimento é possível alocar para essa transição ? A Itaúsa já participa das transições mais relevantes. Temos participação na CCR, que faz todo um trabalho com o tema da mobilidade, na Aegea, com toda a discussão de água e saneamento. E o banco Itaú com toda a parte de finanças para a transição de baixo carbono.

Se a gente quer responder ao desafio que temos pela frente, a economia brasileira inteira vai ter que ser direcionada para esse lugar. Nós temos que fazer a transição completa, que exige que os players da economia a façam.

Eu passei a maior parte da vida como ator da sociedade civil, cobrando do setor financeiro que fizesse esse movimento. Hoje eu tenho a oportunidade de estar dentro de uma organização relevante para fazer esse movimento.

O aprendizado mais importante que tenho é que com esse tipo de diálogo, com pessoas que não necessariamente pensam como você, é que construímos a solução. Talvez essa seja a explicação para a Itaúsa ter convidado um cara como eu para fazer esse processo.

Como acelerar essa transição? A ciência indica que essa transição precisa acontecer de maneira mais rápida e justa. E isso coloca um baita desafio, porque o modelo de transição que funciona para Estados Unidos e Europa não é um modelo que vai funcionar para o Brasil.

Temos a responsabilidade de fazer uma discussão de onde está a melhor ciência para isso. Quem são os stakeholders chaves para fazer uma conversa sobre essa transição, que não vai ser efetivamente tranquila.

Quais serão os eixos de atuação do instituto? Conservação do meio ambiente e o binômio produtividade e sustentabilidade. A maneira tradicional que se enxerga produtividade em sistemas econômicos é como vou fazer mais com menos e, eventualmente, com uma consequência de sustentabilidade negativa.

Estamos olhando para a produtividade & sustentabilidade, assim com o "E" comercial. Além de sustentáveis, os sistemas têm que ser produtivos. Usar menos terra para produzir mais alimentos. Usar menos água para produzir mais materiais.

Como temos um balanço finito, limites planetários, se quisermos equidade e dizer que nesta economia cabe todo mundo, precisamos aumentar a produtividade. É um ressignificar da palavra produtividade, o que não é trivial. Existem reações. Seja de quem olha pelo lado tradicional, seja da turma da sustentabilidade.

Que projetos o instituto irá bancar? Esse ano de 2023, com um orçamento de R$ 10 milhões, fizemos os primeiros contratos, em co-investimento com outros institutos e fundações, como Arapyaú, Votorantim, Fundação Arymax, Ibirapitanga.

Com o Instituto Votorantim, por exemplo, investimos em um projeto de mapas de vulnerabilidade para as cidades e geração de planos de emergência climática, importante para que prefeitos e prefeituras saibam como operar.

Em São Sebastião temos a questão climática, da natureza, com ocupação de áreas que não poderiam ser ocupadas, e desigualdade. E elas se interconectam. O instituto atua justamente nesses pilares estratégicos. E a Itaúsa, que tem quase 1 milhão de investidores distribuídos em 95% das cidades do Brasil, é uma holding que tem essa responsabilidade.

Imagina que legal quando as pessoas estiverem comprando uma ação da Itaúsa, elas entendam que, além da questão econômica, esta é uma empresa preocupada com o clima, a natureza e as pessoas, ao incorporar na sua gestão de portfólio a dimensão ambiental, social e de governança.

Como não deixar que essa onda ESG se converta em greenwashing? ESG é apenas uma operacionalização de como você transforma uma visão de sustentabilidade em ações concretas que podem ser mensuradas, demonstradas, reportadas para a sociedade, os investidores e os colaboradores.

A pergunta é: as ações que estamos fomentando, seja através do instituto seja através das investidas, elas têm impacto ambiental e social positivo?

Temos as empresas que respeitam a lei, as que já estão fazendo além do que a lei exige e as que estão na liderança da agenda ESG. Eu diria que a Itaúsa está já neste meio, indo além do exigido.

Você poderia dar um exemplo? Estamos fazendo inventário de carbono com o escopo de emissão das empresas e olhando para a criação de uma jornada de descarbonização. São temas que a própria CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pede apenas para relatar se você faz ou não faz. Já incorporamos esses desafios na nossa atuação.

Queremos gerar esse conhecimento não só para a Itaúsa. Queremos cada vez mais organizações, empresas, academia, sociedade civil instrumentalizadas para termos uma sociedade próspera, justa e sustentável. Isso só vai acontecer com uma economia que seja próspera, justa e sustentável.

RAIO X

Marcelo Furtado, 59, é head de sustentabilidade da holding Itaúsa e diretor da Nature Finance, ONG que atua pelo alinhamento das finanças globais com resultados positivos para o clima e a equidade. Foi do Greenpeace por 24 anos, como diretor executivo no Brasil e em posições internacionais, além de CEO do Instituto Arapyaú e da Alana Foundation.

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