Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Reinaldo Azevedo

Federações podem dar 2ª via à luz; a 3ª, a dos reaças, já está no poder

União entre legendas pode tornar viável uma liderança realmente conservadora; Bolsonaro e Moro são apenas as expressões do caos

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Conversas em curso para a formação de federações partidárias podem trazer à luz, quem sabe, o que até agora não há: o candidato conservador viável. Será o nome da segunda via! O da primeira, como resta evidente, é Lula, do PT. Pertencem à "terceira via", neste meu raciocínio, Jair Bolsonaro e Sergio Moro. Vamos ver.

Não era simpático à ideia das federações porque garantem a sobrevivência de legendas que só subsistem em razão do fundo partidário. Ainda que uma ou outra possam defender causas meritórias, deveriam ser correntes de opinião em partidos maiores. Nas democracias estáveis, as disputas são, em sua essência ideológica, dualistas. Uma terceira força só se robustece em caso de erros de operação da tendência que hegemoniza, para ser genérico, o progressismo e o conservadorismo.

TSE apresenta as novas urnas eletrônicas, que devem ser usadas a partir das eleições de 2022 - Abdias Pinheiro/SECOM/TSE/Divulgação

O STF começou a julgar ontem um recurso do PTB contra a formação das federações, que impõem que a união entre siglas dure ao menos quatro anos e reproduza nos Estados o acerto que se fizer em escala nacional. Não vejo por que o tribunal deva se meter na questão. A lei não impõe a formação dos blocos; apenas oferece essa alternativa.

Revejo meu ponto de vista e retiro minhas restrições. Os desdobramentos políticos decorrentes da possibilidade de se fazerem as federações já se mostram virtuosos. Espero que não fiquem só na conversa. Legendas, mesmo algumas grandes, que não teriam por que estar separadas do ponto de vista ideológico, buscam a longa união temporária.

Eis aí, entendo, mais um efeito positivo da entrada de Lula (PT) na disputa. Como, a rigor, ele lidera a corrida presidencial desde 2013 — sim, eu realmente escrevi "2013" —, assumiu a ponta nas pesquisas de intenção de voto tão logo o Judiciário corrigiu alguns dos desmandos do juiz-ministro-consultor-candidato, que comandou o transe coletivo de ataque à democracia que resultou em Bolsonaro.

A elegibilidade do ex-presidente representa um freio de arrumação na ordem democrática. Se a vontade renitente (desde 2013!!!) de parcela considerável do povo é fraudada por patranha judicial, o que se tem é democracia corrompida. Depois de tudo o que se sabe sobre a Lava Jato e a Vaza Jato, com a Alvarez & Marsal como a cereja no bolo da impostura, Sergio Moro estar por aí, a voejar sobre o processo político, constitui a prova provada do acerto das decisões do STF.

No embate essencial entre "conservadores" e "progressistas", sempre destacando o apelo à terminologia genérica, o PT lidera a pressão mudancista, redistributivista, igualitarista, que atribui ao Estado um papel ativo na correção das iniquidades sociais. O PDT de Ciro Gomes parece negar a evidência, o que pediria longa digressão sobre o partido e o político. Não cabe aqui. O que importa: se Lula estiver no segundo turno e Ciro não, a maior parte do eleitorado do pedetista migra para o petista. E também o contrário.

Se Lula é o principal nome dos "progressistas", quem é que vai comandar os democratas "conservadores"? Essa é, convenham a questão posta desde que o ex-presidente voltou ao jogo. É mentira que se está a buscar uma "terceira via". Isso, tenho repetido, é bobagem. O que se tenta, de verdade, é mesmo encontrar quem tem condições de hegemonizar a segunda: a do conservadorismo legítimo.

"Ei, Reinaldo, esse seu raciocínio está a ignorar Bolsonaro?" Pois é... Está, sim! Porque ele nunca foi e nunca será um conservador de instituições. É a aberração que o delírio persecutório lavajatista tornou viável. Este senhor, seja por filiação a algumas ideias literalmente exóticas (importadas da extrema direita dos EUA e da Europa), seja por destrambelhamento e ignorância, é diruptivo. Moro, como resta a cada dia mais claro, é só o candidato ao lugar de Bolsonaro no panteão do reacionarismo.

As federações partidárias dão aos realmente conservadores a chance de encontrar um nome para enfrentar os progressistas. Hoje, vivemos sob o governo da "terceira via", que é a do caos. Com as federações, entendo, o país tem a chance de voltar aos confrontos no terreno da normalidade democrática. Vai acontecer? Não sei. Não faço previsões.

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