Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Extremas direitas têm um feriadão aziago com Toffoli e delação de Mauro Cid

Lula celebra em paz o 7 de Setembro, e reaças roem os cotovelos

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Que feriadão "aziago", lembrando o bardo, para as modalidades mais influentes da extrema direita nativa, que ambicionaram —e jamais desistirão; esse é seu "ethos"— tomar o poder por meio de golpe, seja conspirando contra o ordenamento legal, seja investindo na disrupção institucional. Perderam. E perderão sempre se nos mantivermos vigilantes. É o preço, sim, da liberdade.

Os reaças costumam evocar esse brocardo a cada vez que se veem tolhidos no prazer perverso de humilhar os humilhados. Nas redes, um sujeito chegou a evocar um texto contra o nazismo, de autoria do pastor Niemöller, para acusar a perseguição aos super-ricos no Brasil. Como é mesmo? "Um dia, vieram e levaram meu vizinho judeu. Como não sou judeu, não me incomodei..."

Mauro Cid durante participação na CPI do 8 de janeiro - Adriano Machado - 24.ago.2023/Reuters

O valente nos convidava, também aos superpobres, a reagir contra a cobrança de impostos das offshores e dos fundos exclusivos. Na cabeça dele, no que concerne à tributação, o governo Lula está para o nazismo como os nababos estão para os judeus, católicos e comunistas perseguidos. Os fascistoides e sonegadores, em tempos de redes sociais e de ignorância alastrante, exercitam um discurso de resistência. Entendo seu "patético momento", mas não me comovem.

"E o desconcerto e desconserto das direitas, Reinaldo?" Já chego. É preciso caracterizar minimamente o ambiente moral e ideológico acanalhado em que se movem esses patriotas, que se sentem sufocados pela democracia e pelo Estado de Direito. Bradava outro dia, contra o que vê como "censura de Xandão", um desses entusiasmados: "A liberdade é quase sempre a liberdade de quem pensa de modo diferente". Aí fiquei comovido. Citava a comunista Rosa Luxemburgo... É bem verdade que, nesse caso, ela estava contestando Lênin. Mas o bruto ignorava a autoria da frase —e também o resto.

Dada a metafísica dos patetas, vamos às personagens. Dias Toffoli, ministro do STF, fez o óbvio: anulou as chamadas "provas" que embasaram o acordo de leniência da Odebrecht em razão das múltiplas e estupefacientes ilegalidades cometidas pelo órgão acusador, em conluio com o julgador.

As evidências dos malfeitos estão no material colhido pela Operação Spoofing, determinada "de ofício" —e estamos nos esquecendo disto—, por Sergio Moro, então ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Ninguém produziu provas contra si mesmo com tanta determinação e competência. Imaginava destruir aquele conteúdo. Não se deu conta de que o hackeamento era, claro!, ilegal, mas não a sua apreensão, ordenada por ele mesmo. Eliminar provas é crime. O cara costuma ter um padrão, digamos, solipsista em matéria de língua e de direito...

E tonitruam os Catões da moralidade pública, inconformados com o que consideram os riscos de a Cartago petista destruir a Roma de que são patrícios: "A roubalheira não aconteceu? Está tudo apagado?". Os grupos até então mais perigosos formados no Brasil e que justificam o cometimento de crimes sob o pretexto de combater crimes eram as milícias e o esquadrão da morte. E a democracia repudia milicianos, ainda que em terninhos cafonas. Se o padrão de oposição ao PT não mudar, reeleições estão garantidas ao partido. Convém ler as pesquisas.

No front dos disruptivos, a má notícia diz respeito à delação de Mauro Cid, acordada com a Polícia Federal, que depende agora da homologação da Justiça. Alexandre de Moraes é o relator dos inquéritos em que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro é investigado. A informação foi dada com exclusividade pela jornalista Andréia Sadi, do G1 e da GloboNews.

Com suas idas e vindas, parece que havia método na aparente maluquice de Cezar Bitencourt, defensor de Cid, para lembrar de novo o Shakespeare lá do primeiro parágrafo. A ver como se comportará a defesa de Bolsonaro. Já exibiu várias estratégias. Tendo muitas, não tem nenhuma.

"Mas que dia aziago [...], que tristeza!", lamenta a vanguarda do atraso, diante de suas ilusões mortas. Num outro palco, mas no mesmo drama, Lula liderou um Sete de Setembro em paz. E os Catões a roer os cotovelos do seu reacionarismo: "Ah, como eu odeio esse cara! Ele tem de ser destruído!". Os deserdados da Lava Jato e do "Capitão" perderam. Mas sejamos vigilantes. É o preço da liberdade.

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