Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renata Mendonça
Descrição de chapéu
Renata Mendonça

A base vem forte quando tem investimento

Seleção sub-17 campeã dá esperanças para o futuro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A seleção brasileira feminina sub-17 conquistou o título do Sul-Americano da categoria no último fim de semana. Uma campanha irretocável com 33 gols marcados e nenhum sofrido com sete jogos e sete vitórias.

Números que evidenciam a disparidade das categorias de base do futebol feminino na América do Sul. Mas que também nos dão um pouco de esperança de que o futuro delas já é muito promissor.

Esse foi o quarto título da seleção feminina na competição, que existe desde 2008 e ocorre a cada dois anos. Foi a melhor campanha do Brasil no histórico do torneio e também a primeira vez em que as brasileiras disputaram um Sul-Americano de base desde que a CBF passou a organizar torneios sub-18 e sub-16.

Seleção brasileira campeã do Sul-Americano feminino sub-17
Jogadoras da seleção sub-17 celebram triunfo no Uruguai - Divulgação/Conmebol

E a diferença que isso faz é notável. Entre as convocadas da seleção sub-17 que estavam no Uruguai, todas estão em atividades nos clubes, disputando competições de base. Por mais básico que isso pareça, é algo absolutamente recente –e inédito. A primeira competição de base criada pela CBF em nível nacional aconteceu apenas em 2019, com o Brasileiro sub-18. Faz "só" três anos que o Brasil faz alguma coisa para desenvolver os inúmeros talentos que sempre surgiram por aqui no futebol feminino.

Antes disso, havia o Paulista sub-17 criado há seis anos, além do Gaúcho sub-17 e do Carioca sub-17 que começaram a ser realizados recentemente.

Isso significa que, até pouco tempo atrás, uma menina que quisesse ser jogadora de futebol no Brasil não teria a chance de fazer isso num clube, disputando competições federadas, até que ela tivesse pelo menos 15 ou 16 anos e fosse jogada numa equipe adulta, pulando todas as etapas de formação.

Até hoje, para meninas de oito, nove, dez anos de idade, ainda é muito raro encontrar uma categoria de base feminina pra jogar, uma competição feminina para disputar. O mais comum é ver essas meninas inserindo-se no futebol em escolinhas e clubes masculinos –e frequentemente sendo proibidas de disputar competições porque o regulamento "não aceita meninas".

É verdade que existiu uma proibição por lei que impediu mulheres de jogar futebol por 40 anos (de 1941 a 1979). Mas a proibição prosseguiu, só que de maneira informal. Meninas poderiam jogar, mas onde? Elas poderiam ser jogadoras se quisessem, mas como se desenvolveriam? Simplesmente nunca foi dado a elas o que há muito tempo se vê entre os meninos: oportunidade e incentivo.

Ainda bem que isso começa a mudar. Ainda a passos lentos, mas ao menos começamos a andar. Com o Brasileiro sub-18, o sub-16, o Torneio de Desenvolvimento da Conmebol sub-14 e sub-16, as meninas passaram a ter a chance da formação no futebol. Etapas básicas de desenvolvimento técnico e tático, fundamentos etc., que nunca foram cumpridas com elas.

Ficou evidente dentro de campo quanto a atividade nos clubes faz diferença para o que uma seleção de base consegue apresentar. A organização tática, atletas mais fortes fisicamente (mesmo ainda com 15 ou 16 anos), mais conscientes dos seus movimentos durante o jogo e com um comportamento coletivo que chamava a atenção. O talento sempre existiu, mas precisava ser lapidado.

Ainda estamos muito atrasados em relação às principais seleções do mundo no futebol feminino. Nos Estados Unidos, meninas jogam desde os quatro, cinco anos de idade, existem competições de todas as categorias nos mais diferentes níveis. Na França, a mesma coisa. Aliás, França e Espanha são algumas das seleções que mais evoluíram nos últimos anos (as francesas ainda num patamar acima), e a chave para isso foi o investimento na base.

Mas a luz no fim do túnel para nós nunca esteve tão brilhante. Finalmente parecemos estar caminhando na direção dela.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.