Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renato Terra
Descrição de chapéu Eleições 2018

Seu fígado tem um recado para você

Pare de tomar decisões baseadas em mim, ele diz neste domingo

Caro leitor, quem escreve aqui é o seu fígado. Sou eu quem faz você soltar de uma vez, da maneira mais cruel, aquelas frustrações engasgadas do seu casamento. Já fiz muitos pais pararem de falar com seus filhos. Sou a fonte do ciúme, da inveja, da fúria. 

Aquele copo de vinho jogado na cara de um amigo? Fui eu. Sem falar daquela vez que você pediu a demissão de outra pessoa por vingança. Ou da fake news que você espalhou mesmo sabendo que era mentira.

Sei que parece inusitado, mas tomei este espaço para fazer um apelo: pare de tomar decisões baseadas em mim. Eu não aguento mais! Estou no meu limite! Puta que o pariu!

Após drenar essa bile que te cega, vamos pensar juntos: quantas vezes você já se arrependeu de algo que fez com sangue quente? Quantas decisões erradas você tomou quando estava consumido pela raiva cega?

Hoje é dia de drenar a bile, bebê.

A maioria vai eleger hoje um representante que vai governar para todos os brasileiros. Mesmo aqueles que não votaram nele merecerão ser ouvidos e respeitados. 


É possível que você tenha amigos queridos que discordem do seu voto. Seu filho ou sua filha podem ter opiniões diferentes das suas. Seus pais também.

Pois é isso que está em jogo hoje: a manutenção das opiniões diferentes. 

De um lado, temos o partido que roubou o Brasil junto com sua base aliada e provocou uma contradição: seus escândalos de corrupção foram descobertos por causa das decisões de investir na Polícia Federal, dar autonomia para o Ministério Público, não interferir no trabalho da imprensa. O PT escolheu ministros para o STF que puniram com rigor o mensalão e votaram a favor da prisão de Lula. Empreiteiros foram presos. 

Muita gente bateu panelas, foi para as ruas. O direito de se manifestar foi respeitado. 

Um grande amigo meu me disse: “Eu prefiro dar um salto no escuro e correr o risco de levar um tiro do que votar no PT”. 

Esse salto no escuro fica cada vez mais sombrio. “Basta um cabo e um soldado para fechar o STF”, disse o filho de Bolsonaro. Uma ação orquestrada intimidou nossas universidades. 

Uma onda de radicais se sentiu empoderada para agredir pessoas nas ruas. Jair Bolsonaro fez um discurso transmitido na Paulista conclamando a todos para se ajustarem às suas ideias sob pena de irem para a cadeia ou exílio.

Aqui vai o apelo de seu fígado. Na hora de apertar os botões da urna, me esqueça. Depois não venha me encher de cachaça.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.