Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Renato Terra
Descrição de chapéu ataque à democracia

As crônicas de Bolsonárnia

Uma história fantástica de autodesconhecimento

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Montado num suntuoso jet ski alado, o Andarilho do Alvorada sobrevoava as amplas terras desmatadas, as monoculturas de soja, os rios flamejantes de mercúrio e as cidades habitadas por seres híbridos, de corpo metade humano, metade gado.

Era o reino encantado de Bolsonárnia, um mundo de fantasia com criaturas mitológicas, narrativas fantásticas e pagamentos em dinheiro vivo.

Mas esse mundo perfeito, imbroxável, estava sob a constante ameaça do Feiticeiro Vermelho, que prometia trazer a escuridão eterna, o frio e a Lei Rouanet.

Uma batalha épica se anunciava. Os seres híbridos se reuniam em grandes grupos para fechar estradas, destruir palácios e acampar sob chuva forte.

Mas o Feiticeiro Vermelho, eles sabiam, possuía a ardilosa artimanha da fraude. A derrota do Andarilho do Alvorada foi inevitável. O Feiticeiro Vermelho tomou o Castelo das Emas.

Sobre um fundo preto há uma figura fantasmagórica vermelha e outra figura azul muito menor conduzindo um jet ski azul.
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 18.mai.2023 - Débora Gonzales

Os ventos da amargura levaram o Andarilho às terras distantes de Clorokyn Land. Foi lá que começou sua grandiosa jornada de autodesconhecimento.

Tomado por um surto meditativo, o Andarilho do Alvorada nada sabia das falsificações em seu cartão de vacinação. Ignorava as joias que lhe foram oferecidas por monarcas abastados. Desconhecia as movimentações atípicas em dinheiro vivo que ocorriam nos gabinetes de seus filhos e na rotina de sua esposa. Nada sabia do golpe de Estado, da minuta, das propinas em barras de ouro.

O transe transcendental, de tão intenso, levou-o a acidentalmente postar um vídeo no Facebook.

Nos dias que se seguiram, o Andarilho viu alguns de seus fiéis escudeiros caírem. Isolado, escolheu como caminho o aperfeiçoamento de sua jornada de autodesconhecimento.

Sabia que habitava um reino mágico temperado por uma narrativa mitológica que garantia a adesão irrestrita de milhões de seres híbridos.

Protegido em seu reino, o Andarilho do Alvorada conseguiu completar seu projeto de autodesconhecimento. Um novo nível de inconsciência foi desbloqueado, alterando profundamente suas feições. Como num feitiço mágico, uma aura luminosa brilhou ao redor de seu corpo.

Suas articulações começaram a diminuir, assim como os músculos e a pele. Pelos começaram a crescer e seu olfato se aguçou. O tamanho do Andarilho foi sendo gradativamente reduzido até que ele finalmente se transformou em um rato.

Entrou no primeiro buraco que apareceu na sua frente.

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