Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Renato Terra
Descrição de chapéu
ataque à democracia Congresso Nacional

Não fui eu, foi meu eu lírico

Uma sugestão para Jair Bolsonaro

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Quando a Polícia Federal perguntou a Bolsonaro e a seus advogados a respeito do vídeo golpista publicado no Facebook do ex-presidente após os ataques de 8/1, eles alegaram que o conteúdo foi postado por engano, uma vez que Bolsonaro estaria confuso, sob efeito de remédios.

Quando lhes perguntaram a respeito das joias sauditas, eles se contradisseram e deram uma versão diferente a cada vez que foram interrogados.

Quando lhe perguntam a respeito dos desassombros de seu nefasto governo, Bolsonaro alterna mentiras e devaneios.

Diante da inexorável repercussão negativa das desculpas esfarrapadas, tomo a liberdade de sugerir ao ex-presidente uma padronização das respostas. Algo que pelo menos lhe garanta uma linha de raciocínio coerente.

É notório que a persona pública de Jair Bolsonaro se descolou de sua figura de carne e osso. Operou-se uma construção do mito descolada da noção de espaço-tempo, o que por usa vez acarretou a consolidação inequívoca de um eu lírico. Sendo assim, sugiro uma linha de defesa para as acusações que estão por vir.

Sobre um fundo preto estao flutuando recortes de uma face: um cabelo comprido laranja, um óculos redondo roxo, um olho verde, um olho azul, um nariz rosa, um bigode azul e uma cara amarela.
Ilustração de Débora Gonzales para a coluna de Renato Terra do dia 27 de abril de 2023 - Débora Gonzales

Uma possível pergunta na CPMI dos ataques terroristas de 8/1: "O senhor martelou repetidas vezes a tese de fraude nas eleições e nunca apresentou provas. O senhor chegou a fazer uma apresentação para embaixadores, tentou emplacar o voto impresso, fez várias lives sobre esse tema. Isso tudo comprova que o senhor estimulou o repúdio ao resultado das eleições. Tá tudo registrado, documentado. O que o senhor tem a dizer?".

Resposta de Bolsonaro: "Não fui eu, foi meu eu lírico".

Ou então: "O senhor foi à televisão dizer que a pandemia de Covid-19 era apenas uma ‘gripezinha’, criticou as vacinas, insistiu num tratamento sem comprovação científica, duvidou dos números oficiais, pedindo inclusive que as pessoas invadissem as UTIs para filmar com celulares. Estudos mostram que o número de mortos no Brasil poderia ser bem menor se o senhor tivesse agido de maneira correta".

Resposta: "Não fui eu, foi meu eu lírico".

Ou ainda: "E o estímulo à invasão de terras indígenas, ao desmatamento?".

Resposta: "Não fui eu, foi meu eu lírico".

Até o fechamento desta coluna, não obtivemos provas de que o "eu lírico" atenda pelo nome de Carlos Bolsonaro.

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