Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Jair resolve anistiar Bolsonaro

Ex-presidente explicou que vem fazendo isso há décadas

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Sapiente de que o Reino de Messias independe do Judiciário, da imprensa e da ética, o Jair Bolsonaro resolveu anistiar a si mesmo. "Pra que depender daquele Alexandre Pilatos, da mídia pagã e das leis dos Homens pra me julgar se eu posso fazer isso sozinho?", discursou. Em seguida, soltou um versículo bíblico para justificar sua postura: "'Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna', João 3:16".

Ungido de óleo de peroba, ele continuou. "Nunca atuei fora das quatro linhas da Constituição. Nunca!", disse o ex-Messias enquanto abria o seu exemplar da Constituição para mostrar que havia apenas quatro linhas escritas em suas páginas.

Bolsonaro convocou apoiadores para mostrar que a autoanistia é frequente na sua trajetória. "Quando eu era do Exército, vieram com esse mimimi de que planejei um atentado a bomba no rio Guandu. Vieram até com uma minuta impressa e auditável, que na época chamavam de croqui", explicou. Na sequência, subiu o tom: "Cadê a explosão? Cadê a bomba, porra? Um estalinho sequer!".

Na ocasião, o Exército levou em conta um exame grafotécnico no julgamento do caso. Foram quatro votos. Dois cravaram que os desenhos eram de Bolsonaro. Outros dois julgaram os exames inconclusivos. O tribunal sacou da cartola um "empate". É como se um time de futebol fizesse dois gols, o outro não fizesse nenhum e o juiz decretasse um empate.

Uma ilustração colorida, de uma composição de emojis: uma carinha chorando sobre uma Bíbia aberta com um medalha militar pendurada. E ao lado dinamites, um capacete e um frasco de creme.
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 7 de março de 2024 - Débora Gonzales/Folhapress

"Não quero me gabar, mas foi meu primeiro milagre", completou Jair. "Resolvi me autoanistiar e parti pra vida pública". Em seguida, mais uma vez apresentou mais um versículo para fundamentar seu raciocínio: "'Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas', Mateus 6:33".

O ex-presidente continuou a apresentação. "Rachadinha? Anistiei-me. Joias sauditas? Anistiei-me pra caralho". E seguiu a lista: "Prevaricação? Facilitação do acesso a armas por bandidos? Crimes durante a Covid? A-n-i-s-t-i-e-i-me e foda-se".

A atitude de Bolsonaro foi euforicamente recebida pela multidão que o apoia. Ouviram-se as expressões conhecidas como "Mito!", "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", "Selva!" e "Imbrochável". A frase que ficou de fora, desta vez, foi "Eu não tenho bandido de estimação".

"Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento."

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