Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Brasil tem Dr. Jair e Mr. Bolsonaro, um é presidente e outro apoia o presidente

Bolsonaro é como aniversariante que faz o bolo, organiza a festa e canta 'parabéns pra mim'

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Na história de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de “O Médico e o Monstro”, um é respeitável e o outro é sinistro. Na versão brasileira, Dr. Jair e Mr. Bolsonaro também são dois, sendo embora um só, mas a diferença é que são ambos admiráveis.

Um é presidente, o outro apoia o presidente. O primeiro governa tão bem que o segundo não tem outra alternativa senão convocar protestos de apoio ao primeiro.

A dificuldade do projeto torna maior a admiração pelo homenageador e pelo homenageado. Não deve ser fácil organizar um ato de apoio a si mesmo. Jair tem de subir ao púlpito para falar e seduzir a multidão, e depois Bolsonaro tem de descer do púlpito, pegar no megafone e no cartaz e gritar bem alto o modo como as palavras o seduziram.

Infelizmente, quando Jair fala, Bolsonaro ainda não está na plateia; quando Bolsonaro exprime a sua admiração e apoio, Jair já não está no púlpito. As leis da física, se não estivessem perfidamente ao serviço da esquerda, permitiriam que Jair falasse para o seu melhor ouvinte, Bolsonaro; e que Bolsonaro, ao mesmo tempo, incentivasse o seu maior ídolo, Jair.

Ilustração do busto de Jair Bolsonaro com a faixa presidencial e a frase: "JAIR defende o Presidente Bolsonaro". No fundo, a bandeira do Brasil.
Luiza Pannunzio/Folhapress

Ambos, olhando nos olhos um do outro, poderiam persuadir e ser persuadidos, apoiar e ser apoiados. É como um aniversariante que faz o bolo, organiza a festa, canta “parabéns pra mim”, oferece um presente, o recebe e se surpreende por ser exatamente o que queria. Não admira: foi a pessoa que mais ama que o comprou.

Bolsonaro, como Walt Whitman, contém multidões. Ele é o ativista que convoca protestos de apoio; ele é o governo que os protestos apoiam; ele é as Forças Armadas, porque é capitão; ele é jornalista, porque dá notícias no Twitter; ele é todo o espectro político, porque já militou em nove partidos; ele é o ambientalista que ama a natureza —no sentido próprio—, porque já amou galinhas; ele é a consciência coletiva, porque é mito; ele é a voz do povo, porque, na verdade, ele é todo o povo.

Ele, sozinho, é um país. O Brasil não precisa de mais ninguém. Tem 200 milhões de habitantes, o que significa que, na verdade, tem 199.999.999 cidadãos a mais. É um desperdício.

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