Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Uma família às direitas

Alguém ofereça um gato à família Bolsonaro, por favor

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Ilustração em linhas pretas e fundo branco. Um homem de terno tem uma tv no lugar na cabeça. Na tela da tv, há a imagem da cabeça de Jair Bolsonaro com os olhos vermelhos
Luiza Pannunzio/Folhapress

Quando Bolsonaro ameaçou tirar a licença de emissão à Globo, todo o mundo entendeu que ele tinha cometido um erro grave. Tinha feito um vídeo em que esbracejava e gritava sozinho para a câmera, prometendo atitudes próprias de ditador, mas não estava acariciando um gatinho branco.

Por que, meu Deus? Como é que uma pessoa falha uma oportunidade dessas de encarnar um vilão dos filmes quando está tão próximo do objetivo? É como vestir a roupa do palhaço, colocar a peruca, calçar os sapatões e depois esquecer o nariz vermelho.

Quando o filho do Bolsonaro, poucas horas depois, ameaçou reinstaurar decretos da ditadura, também não tinha um gato no colo. Mas o que é isso? 

Alguém ofereça um gato à família Bolsonaro, por favor. É um problema de filosofia da linguagem. Assim, a mensagem não passa. Se eu disser “minha tia Alice morreu”, toda a gente acredita. Mas se eu disser “minha tia Alice morreu” enquanto estiver dançando (eu é que estou dançando, não a tia Alice) as minhas palavras serão menos credíveis. 

Do mesmo modo, quem quer anunciar o regresso à tortura não tem a mesma credibilidade se não estiver afagando um gatinho.

Ainda mais surpreendente foi o neto do Bolsonaro não ter dito nada. O pai ameaçou suprimir a liberdade de imprensa, o filho ameaçou abolir a democracia e o neto não aparece a prometer ao menos um fuzilamento?

Que se passou? A criança estará a ser educada de acordo com os valores da família ou terá sucumbido ao marxismo cultural que ouve na escola?

Não será melhor um assistente social ir ao lar dos Bolsonaros fazer uma avaliação, para ficarmos todos mais descansados? É que a família Bolsonaro funciona ao contrário das outras.

Nas nossas, a gente tem sempre um avô mais reacionário que, no Natal, começa a falar dos bons velhos tempos e de como a gente precisava regressar à ditadura, e as gerações mais novas, com paciência, têm de dizer que não, avô, quem fala de regresso à ditadura está sonhando.

Na família Bolsonaro é o pai —que é o equivalente, em reacionarismo, ao avô do nosso avô— que tem de dizer ao filho que quem pretende o regresso à ditadura está sonhando. Sendo assim, o neto devia estar a deixar crescer um bigodinho e a planejar a invasão da Polônia. Com um gatinho no colo, espero.

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