Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Pane do Facebook colocou metade do planeta em coma por seis horas

Na vida, se a gente tem um seguidor chama a polícia; na outra 'vida', se tiver 1 milhão é um bom começo

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Se a nossa vida virtual é vida, então metade do planeta esteve em coma na semana passada. Durante seis horas, algumas redes sociais deixaram de funcionar.

Foi um bom pretexto para pensar na vida. Refiro-me à outra, a que decorre fora da internet. Há duas ou três diferenças entre a vida e a "vida". Por exemplo, as palavras não significam exatamente a mesma coisa. "Amigo", na "vida", não significa o mesmo que amigo na vida. Amigos de carne e osso dão-nos a mão, "amigos" dão-nos aquela mãozinha com o polegar levantado. Parece a mesma coisa, mas é muito diferente.

Há quem se refira aos seus espaços na "vida" como a sua casa: "a minha página de Facebook é a minha casa, quem não se comportar sai"; "o meu Instagram é a minha casa: quem lá está cumpre as minhas regras".

Mas não é bem verdade, pois não? Facebook e Instagram não são a nossa casa. A gente não deixa milhares de desconhecidos entrarem na nossa casa. Mesmo que eles se comportem educadamente. Ou que vão apenas para ver e saiam sem dizer nada.

Essa é outra diferença flagrante entre a vida e a "vida": é impensável a gente comportar-se na vida como se comporta na "vida". Muitas vezes, nós nos queixamos de que as pessoas, nas caixas de comentários, dizem o que nunca diriam pessoalmente a alguém. Mas a verdade é que todo o mundo faz, na "vida", o que nunca faria na vida. Não é preciso ir às caixas de comentários.

Ilustração e preto e branco mostra pessoa deitada em uma cama, vestindo pijama. Ela segura um celular sobre a barriga e uma lágrima desce pelo seu rosto.
Publicada neste sábado, 9 de outubro de 2021 - Luiza Pannunzio

Pessoas discretas e modestas na vida transformam-se em agressivos diretores de marketing de si próprios na "vida". Na vida, ninguém aborrece os amigos dizendo: "Você viu o elogio que me fizeram? E este outro elogio? Viu? E mais esta opinião extremamente laudatória? Reparou?".

No Instagram, isso é uma sucessão de stories normal e aceitável. É um mundo em que a fanfarronice não é ridícula. O objetivo é reunir seguidores. Na vida, se a gente tem um seguidor chama a polícia; na "vida", se tiver 1 milhão é um bom começo.

Em resumo, o que aconteceu esta semana foi: durante seis horas ninguém pôde publicar conteúdos vazios de conteúdo. Senti um vazio bem no meio do meu vazio.

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