Dalai Lama pediu a uma criança para lhe chupar a língua, e sempre que um líder espiritual faz uma coisa dessas eu sinto a atitude como uma ofensa à minha dignidade profissional.
Eu sou um carro-vassoura espiritual. Não lidero. Pelo contrário: sou o último.
A profissão de humorista consiste em comunicar às pessoas os pensamentos mais mesquinhos. As pessoas riem por dois motivos. Primeiro, porque em maior ou menor grau a baixaria que o humorista confessa também já lhes ocorreu na mente.
Em segundo lugar, porque não é frequente ver alguém fazendo publicamente aquele tipo de confissão ao mundo. O humorista se sacrifica pelos outros. Jesus Cristo morreu na cruz pelos nossos pecados.
O humorista vive para cometê-los —e, desta forma, salvar os seus semelhantes. Ele sobe ao palco para ser o mais humano de todos os humanos na sala. O mais reles, o mais sujo, o mais irredimível.
Os outros podem olhar para ele e pensar: puxa, eu achava que era ruim, mas com este termo de comparação sinto-me quase um santo.
O público melhora sem fazer nada por isso, que é a forma mais prazerosa de melhorar. Ficam virtuosos instantaneamente e sem qualquer esforço.
É como receber o teste de matemática, verificar que tivemos 40% de acerto e sentir a nota negativa como documento indesmentível da nossa burrice.
Mas depois perceber que todos os nossos colegas tiveram 15% e nós, subitamente e sem ter estudado um minuto a mais, somos agora os melhores alunos da turma, de longe.
Éramos ignorantes que tinham tido 40%. Trinta segundos depois, somos gênios admiráveis que tiveram 40% de êxito.
Ser líder espiritual consiste no inverso. É ser uma figura moralmente irrepreensível, ter todas as virtudes à mão, servir como um modelo a seguir.
Deve ser muito chato, mas foi a carreira que escolheram. As pessoas devem olhar para o líder espiritual e ambicionar ser, ao menos, quase tão virtuosas quanto ele.
Mas quando o líder espiritual faz coisas que não lembrariam nem ao carro-vassoura espiritual, as pessoas concluem que, se a perfeição é aquilo, mais vale ser irremediavelmente imperfeito.
Ora, este é o meu trabalho. Não é uma brincadeira, a que faço. A imperfeição abjeca custa e não é para todos. Por favor, não tentem fazer isto em suas casas.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.