Ricardo Mussa

Engenheiro de produção, é CEO na Raízen desde 2020 e lidera a força-tarefa de transição energética e clima do B20 Brasil

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Descrição de chapéu tecnologia microsoft

Inteligência artificial abre oportunidade para energia limpa no Brasil

Como disse Bill Gates, data centers são agora medidos em megawatts, não em bites

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Quando Steven Spielberg lançou o filme "AI", no começo do milênio, a inteligência artificial (IA) era vista como mera ficção.

Duas décadas depois, o tema ganhou materialidade, de que todos podem usufruir: da transcrição automática de áudios de familiares no WhatsApp ao ChatGPT —a ferramenta revolucionária da OpenAI que permite simular conversas, produzir textos e solucionar problemas lógicos complexos, entre múltiplas possibilidades.

O primeiro efeito imediato da IA é o crescimento exponencial do volume de processamento de dados. Apenas para ter uma ideia: embora os gigantes do setor de tecnologia da informação não costumem revelar números, calcula-se que o ChatGPT já esteja consumindo mais de meio milhão de quilowatts-hora de eletricidade para dar respostas a cerca de 200 milhões de questões por dia e que seu uso já responda por mais de 17 mil vezes (!) a quantidade de eletricidade do uso de uma família americana, de acordo com reportagem da revista The New Yorker.

Marco Bertorello/AFP

Para dar conta de tanta demanda, os chips dos computadores, cada vez mais compactos, precisam movimentar elétrons em espaços menores, o que aquece os servidores dos data centers. Ou seja, os data centers vão requisitar, com cada vez mais intensidade, sistemas robustos de ar-condicionado para a refrigeração constante desses servidores.

Tudo isso exige muita energia. Estima-se que, em 2022, os data centers tenham demandado entre 240 e 500 terawatts-hora de eletricidade, cerca de 1% a 2% do consumo mundial —mais do que a Austrália usa como país (no patamar de 1%) e mais do que o uso da França (no patamar de 2%), diz reportagem da The Economist.

Somente as quatro big techs (Amazon, Google, Meta e Microsoft), responsáveis por 80% da capacidade de datas centers de hiperescala em 2022, usaram 72 terawatt-horas de eletricidade em 2021, mais que duplicando seu uso em 2017, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA). No Brasil, um data center de grande porte pode consumir a mesma energia de uma cidade de 30 mil habitantes.

Bill Gates, criador da Microsoft, já diz inclusive que, para medir o consumo dos data centers, é preciso trocar os bites pelos megawatts.

Criar a infraestrutura no entorno para abrigar esses data centers é um problema global. Muitos projetos tiveram de ser interrompidos por falta de capacidade para fornecimento de eletricidade.

Ao mesmo tempo, as big techs querem ser protagonistas em iniciativas de descarbonização. Ou seja: não só querem energia como querem energia renovável. Todo esse contexto, portanto, traz uma grande oportunidade para o Brasil: aqui temos tecnologia, capital humano e uma trajetória confiável para a geração e a comercialização de energias renováveis.

Os investidores estrangeiros sabem que o mercado brasileiro conta com um cardápio de fontes renováveis de geração: eólica, solar, energia fotovoltaica, biodiesel, biogás, biometano etc., que podem até ser combinadas com outras fontes —gás natural, por exemplo— que garantam redução de intermitência e segurança energética. A geração distribuída mais sustentável é seguramente um dos grandes apelos.

O que falta é criar um arcabouço regulatório que fomente novos investimentos dando segurança jurídica e regulatória aos investidores. Um bom conjunto de políticas públicas pode ser indutor de desenvolvimento, favorecendo não só a chegada de novos data centers globais mas criando hubs tecnológicos próximos a centros universitários, gerando empregos e renda para os municípios envolvidos.

Mais uma oportunidade para o Brasil, incentivando a mais do que urgente transição energética.

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