É repórter especial. Foi editor de 'Mercado' e de 'Poder'.
Padrão jabuticaba
SÃO PAULO - Com siglas obscuras e elipses desconcertantes, muitas anotações encontradas nos telefones celulares do empresário Marcelo Odebrecht são indecifráveis como este trecho: "Minha cta Tau? Perguntas CPI. Delação RA? Arquivo Feira, V, etc. Volley ok? Panama?".
Outras passagens são mais esclarecedoras. Elas mostram que, antes de ser preso, o empresário estava muito preocupado com os riscos criados pela Operação Lava Jato para a sobrevivência dos seus negócios.
Um dos arquivos encontrados pela polícia sugere que ele estava empenhado em tranquilizar instituições multilaterais como o Banco Mundial, que ajudam a financiar obras da Odebrecht na América Latina e na África.
Outra anotação indica que Marcelo Odebrecht tinha interesse em conhecer melhor a experiência de multinacionais como a alemã Siemens, que conduziram investigações internas, reconheceram seus crimes e pagaram multas bilionárias após entrar em acordo com as autoridades.
O empresário cogitava contratar advogados que ajudassem a lidar com o problema nos Estados Unidos, mas às vezes hesitava. "Pode realmente valer a pena contratar adv US", anotou um dia. Em seguida, escreveu: "Padrao jabuticaba ou US?"
A opção pelo jeito brasileiro pode ter custado caro. Alguns dias após a prisão de Marcelo Odebrecht, executivos do grupo visitaram bancos no Brasil e nos EUA para acalmá-los e receberam garantias de que tudo continuaria como antes. Um banqueiro disse até que gostaria de visitar o empresário em sua cela em Curitiba, para expressar solidariedade.
Na semana passada, quando os procuradores da Lava Jato apontaram empresas controladas pela Odebrecht como a origem de milhões de dólares depositados em contas de ex-diretores da Petrobras na Suíça, ficou claro que os problemas da empresa estão só começando. Alvo de investigações no Brasil e na Suíça, ela agora deverá entrar na mira de outros países onde tem negócios.
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