Ricardo Melo

Jornalista e apresentador do programa 'Contraponto' na rádio Trianon de São Paulo (AM 740), foi presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

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Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula e FHC: alguém está sendo enganado

Aproximação transforma o PT em penduricalho na luta contra Bolsonaro

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​Num país em que a imprevisibilidade domina o presente e o futuro, algumas certezas são líquidas e certas. A maior delas, goste-se ou não: o ex-presidente Lula é a única liderança nacional que dialoga com os anseios do povo pobre e tem compromissos com a democracia, mesmo cambaleante, vigente no Brasil.

Lula foi submetido, ao longo destes anos, a um escrutínio judicial, popular e institucional jamais imposto a nenhum outro político. Chegou a ser humilhado com uma prisão infame graças à ação da Lava Jato/FBI. Uma aliança espúria garantiu que ele ficasse fora de eleições que ganharia.

Lula nunca militou na esquerda “tradicional”. Suas raízes estão no sindicalismo pelego de Paulo Vidal no sindicato dos metalúrgicos do ABC. Acabou empurrado para o front contra a ditadura e aceitou o papel.

Sua origem de classe social falou mais alto. Mesmo assim, jamais foi afeito a “programas de esquerda” ou alternativas revolucionárias, embora o PT tenha sido fundado sobre bases de ruptura com a ordem vigente.

FHC foi transformado em político pinçado das lides acadêmicas. Inclusive com o apoio de Lula, como ilustra sua campanha de 1978 para senador. Sempre trafegou pelo grand monde e a classe média alta. Sua turma: intelectuais estranhos ao chão de fábrica, menos na hora de escrever teses de mestrado.

Manteve-se, e se mantém, fiel às origens. Os dois governos de FHC significaram um paraíso de benesses ao grande capital. Privatizações facilitadas a rodo, esbulho da soberani a nacional (PetrobraX...) e estelionatos eleitorais.

Ninguém pode apagar a roubalheira que cercou a emenda da reeleição, denunciada em primeira mão por esta própria Folha e nunca desmentida, tampouco a desvalorização abrupta do câmbio após conquistar outro mandato.

O PSDB, moradia de FHC, apoiou o impeachment de Dilma Rousseff, aliou-se a Michel Temer e ajudou a eleger Jair Bolsonaro. Deu seu aval à prisão de Lula e é cúmplice do desastre ao que foi lançado o país.

Fale-se o que quiser, a rasgação de seda entre Lula e FHC, com direito a fotos, almoços e manifestos conjuntos só pode, como aconteceu, espantar a gente humilde e os democratas sinceros.

O legado das gestões petistas continua na memória da maioria do povo. Não por acaso durante os 580 dias de prisão de Lula havia um acampamento ao lado da Polícia Federal no Paraná simbolizando a esperança da volta a dias melhores.

A julgar pelas notícias recentes, a suavidade com FHC parece ser a ponta do iceberg de uma política que abre mão de princípios sociais em busca de resultados eleitorais. O PT está interessado em palanques competitivos. Vale tudo.

Errar é humano; errar duas vezes é burrice ou determinação. O impeachment de Dilma começou a ser gestado desde que Lula foi eleito em 2002. A ilusão de que capital e trabalho possam conviver em harmonia desabou em 2016. Lula apostou na fórmula quando assumiu o Planalto. Deu a Dilma que deu.

Até um cego é capaz de ver que a aproximação de FHC com Lula agora é uma tentativa desesperada de aprisionar a maior liderança nacional para os objetivos do grande capital: sedimentar e aumentar a desigualdade social, dissolver a soberania local e retroceder o Brasil à condição de país colonial exportador de matéria-prima.

Iniciativas contra o neofascismo bolsonarista sempre serão bem-vindas. Aí cabe avaliar alianças mesmo com diabos como FHC. Mas se o diabo é contra o impeachment de seu enviado Bolsonaro que promove mais de 2.000 mortes diárias, corrói diariamente os resquícios de democracia e devasta o país em todos os sentidos, é sempre bom observar o currículo dos aliados. O povo tem memória.

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