É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.
É muito cedo para falar na reforma de Federer
Na maior parte das vezes, quando um grande campeão perde inesperadamente um jogo que todos esperavam que vencesse porque era o claro favorito, as atenções concentram-se no adversário que conseguiu a grande proeza. Não foi esse o caso após a derrota de Roger Federer na quarta ronda do Open dos Estados Unidos.
Ao contrário de outros que lograram surpreender Federer, a vitória de Tommy Robredo não lhe valeu a promoção instantânea à nova sensação do ténis. Lembram-se do que aconteceu ao sueco Robin Soderling depois daquela noite mágica em que eliminou Federer das meias finais de Roland Garros em 2010? Antes dessa derrota, o suíço tinha-se qualificado para 23 semi-finais consecutivas em torneios de Grand Slam - não ocorreu a ninguém, nesse dia, que pudesse estar a perder qualidades.
É verdade que o espanhol não é exactamente um novato. Aliás, como o seu adversário, pode ser descrito como um veterano, com um ténis sólido e consistente. No entanto, em dez confrontos anteriores, nunca ganhou a Federer - logo, argumentou-se apressadamente, a diferença tem de estar no jogo do suíço de 32 anos.
Posso estar muito enganada, mas parece-me que ainda é demasiado cedo para começar a apostar no declínio e desmoronamento da carreira de Roger Federer, para mim o jogador mais inteligente, subtil e elegante no circuito mundial.
É sempre comovente (e às vezes também um pouco confrangedor) quando os maiores ídolos revelam as suas fragilidades. Não acho que o suíço esteja já no ocaso da sua forma, mas espero sinceramente que ele não ligue àqueles comentadores que o recomendam a retirar-se já, e em glória, para não ter de passar pela "humilhação" de falhar o acesso outras meias-finais.
A idade irá certamente pesar, mais e cada vez mais, enquanto Federer continuar no circuito: talvez as suas pancadas já não desenhem curvas perfeitas ou geometrias impossíveis tantas vezes como outrora, mas nem por isso as suas jogadas perderam a graça ou a sofisticação que maravilha qualquer amante da modalidade.
O torneio deste ano em Flushing Meadows prenuncia uma nova fase de emoção no ténis masculino, que está repleto de talentos. O outrora exclusivo clube de quatro que dominou o circuito nos últimos anos - desde 2005, Federar, Nadal, Djokovic e Murray dividiram os troféus de 33 dos 34 torneios Grand Slam - abriu as portas a novos membros: David Ferrer, Juan Martin del Potro, Jerzy Janowics, Jo-Wilfred Tsonga, Richard Gasquet e agora Stan Wawrinka, que com um jogo absolutamente irrepreensível carimbou por direito o bilhete da sua primeira meia-final.
Mas o facto de haver mais candidatos ao pódio não é razão para empurrar para fora dos courts o melhor jogador de todos os tempos. Porque até as suas derrotas, são uma vitória para o ténis.
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