Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
Os santos inocentes e as notícias falsas
Reprodução | ||
Frame de vídeo divulgado pela rede de notícias CNN criticando a publicação de notícias falsas |
SÃO PAULO - É das histórias mais populares do cristianismo: para eliminar o recém-nascido Jesus, o rei Herodes manda matar todas as crianças de até dois anos em Belém.
O episódio é rememorado neste 28/12 como Dia dos Santos Inocentes, referência aos bebês que teriam sido mortos. No mundo hispânico, a data é celebrada com "pegadinhas" de todo tipo —a mídia brinda os leitores com notícias falsas e chistosas.
Dá até saudades da época em que as notícias falsas eram assim, inocentes, pois poucos adjetivos poderiam estar mais distantes da realidade. De inocentes mesmo só sobraram as soluções aventadas para o problema.
Uma delas foi colocar bandeiras questionando a veracidade dos posts. O Facebook acaba de abandonar a ideia porque a sinalização teve efeito contrário ao pretendido.
Outra iniciativa foi literal e metaforicamente para inglês ver: a publicação de anúncios nos jornais britânicos ensinando a identificar notícias falsas, como se o público-alvo da prática fosse o que lê a imprensa.
O Google impulsiona projetos em que jornalistas checam informações. Também aí há um quê de enxugar gelo —o alcance da notícia inventada tende a superar o da checagem.
O problema é deixar na mão das empresas a busca por uma saída. É anticapitalista esperar isso delas, pois uma solução de fato envolveria mudar práticas que trazem de berço.
Rastrear de maneira eficaz a publicação de posts e publicidade no Facebook e no Google demandaria subir a barreira de entrada de pessoas e anunciantes nas plataformas. Descobrir a origem de uma mensagem falsa no WhatsApp exigiria armazenar informações trocadas pelo aplicativo e quebrar sua criptografia.
Dá trabalho seguir o dinheiro que alimenta o mercado de notícias. Eleições são momento especialmente bom para esse trabalho porque o problema invade a esfera criminal. Isso legitima discutir quando modelos de negócio cruzam o caminho da lei.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade