Roberto Dias

Secretário de Redação da Folha.

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Sinto, logo acredito nas fake news

Mudanças legais para rastrear as mentiras continuam fora da mesa

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O avião voa baixo e despeja sobre a selva e o cinegrafista uma chuva de lavar a alma até do espectador. O vídeo circulou por aqui para provar que israelenses ajudam brasileiros a combater queimadas na Amazônia. Só que a aeronave é de uma empresa americana e o território é boliviano —desmentir as imagens não foi lá muito simples.

No Reino Unido, o premiê Boris Johnson criou o paradoxo das fake news. Ao visitar um hospital, foi confrontado por um pai que reclamava do governo e o acusava de só querer aparecer na mídia. Johnson tentou desmenti-lo: “não tem imprensa aqui”. O pai apontou para o lado, onde, a filmar a nascente fake news sobre a ausência de jornalistas estavam…os jornalistas.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, à dir., é confrontado por pai de recém-nascida em hospital em Londres - Yui Mok/Reuters

As mentiras não param de evoluir, técnica e dramaticamente —a ponto de serem produzidas ao vivo.

Lá fora, o trabalho incorpora algoritmos para identificá-las. Referências emocionais  são marca registrada: textos com fake news usam mais palavras relacionadas a sexo, morte e ansiedade, concluiu uma pesquisa no Canadá. Nas notícias reais, o vocabulário relaciona-se a trabalho e dinheiro. 

Por aqui, o passado. A escala manual de checagem já se provou insuficiente, mas é o que de fato temos por enquanto. Mudanças legais para rastrear as mentiras continuam fora da mesa. O Congresso criou uma CPI sobre fake news que é uma fake news em si.

A Justiça só cuida do próprio rabo. Depois de chamar de fake news o que era um processo judicial, o STF diz ter identificado ataques à corte, mas, veja só, não pode dar nenhum detalhe. Quem vê seu presidente falar, sente direitinho, tal qual o pai no hospital inglês, o que tem pela frente. Percebe também que Dias Toffoli gosta de combinar advérbio de intensidade com adjetivo superlativo. As ameaças ao tribunal, afirma ele, seriam “extremamente gravíssimas”.

Desse jeito, os algoritmos aqui no Brasil vão acabar tendo de fazer hora extra.

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