Descrição de chapéu Brexit

'Não há imprensa aqui', diz Boris Johnson ao ser confrontado na frente da imprensa

Em visita a hospital, premiê foi questionado sobre qualidade do sistema de saúde

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Londres | Reuters

O pano de fundo é o corredor de um hospital em Londres, no Reino Unido. De um lado, enfermeiras atônitas. Do outro, lentes, microfones e profissionais da imprensa.

Entre os dois grupos, acontece um embate entre o pai de uma criança internada e um Boris Johnson acuado —adjetivo incomum para o primeiro-ministro que dificilmente abaixa o tom, mesmo diante dos múltiplos reveses do brexit.

A cena se deu nesta quarta (18) no Hospital Universitário Whipps Cross, localizado na região leste da capital inglesa.

Omar Salem, pai de uma menina de 7 dias de vida, reclamou da demora no atendimento prestado à recém-nascida, que teria ficado na emergência antes de ser encaminhada à ala infantil.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, à dir., é confrontado por pai de recém-nascida em hospital em Londres
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, à dir., é confrontado por pai de recém-nascida em hospital em Londres - Yui Mok/Reuters

"Não há pessoas suficientes neste andar. Não há médicos, não há enfermeiras", disse Salem ao premiê. "O NHS [Serviço Nacional de Saúde inglês] foi destruído, e agora você vem aqui para se mostrar para a imprensa", completou.

"Bem, na verdade não há imprensa aqui", respondeu Boris diante de câmeras e microfones. Salem, então, apontou para os repórteres e questionou quem seriam aquelas pessoas.

Após ficar em silêncio por alguns segundos, o primeiro-ministro explicou que sua presença se devia a uma tentativa de reformular o NHS.

"Bem, na sua La La Land [expressão utilizada para se referir a uma realidade fantasiosa] você acredita no que quiser", finalizou Salem após repetir os questionamentos sobre a presença da imprensa a convite de Boris.

No Twitter, Salem se descreve como ativista do Partido Trabalhista, opositor ao Partido Conservador do primeiro-ministro do Reino Unido —constatação que levou alguns usuários da rede social a sugerir que a reclamação foi encenada e premeditada.

Na tarde desta quarta, Boris Johnson escreveu um tuíte comentando o caso, no qual afirmou que o episódio faz parte do seu trabalho e não o envergonha.

"Sou PM [primeiro-ministro] há 57 dias, parte do meu trabalho é conversar com as pessoas nos lugares e ouvir o que elas têm a me dizer sobre grandes problemas. Não importa se elas concordam comigo. Fico feliz que este senhor tenha me contado seus problemas", afirmou.

Criado pelos trabalhistas em 1948, após a Segunda Guerra Mundial, o modelo do Serviço Nacional de Saúde britânico serviu de inspiração para o SUS brasileiro.

O NHS baseia-se no conceito de um sistema médico todo subordinado ao governo, sem custo para os pacientes e financiado por impostos.

O congelamento de investimentos promovido pelo governo britânico após a crise de 2008 e o alto índice de vagas não preenchidas por médicos e enfermeiros geraram instabilidade nos últimos anos. 

Em junho de 2016, na campanha do plebiscito sobre o brexit, Boris mentiu sobre o volume de repasses à União Europeia, insinuando que a saída do bloco permitiria ao governo aumentar os investimentos ao NHS.

Ele enfrentou questionamentos na Justiça, mas o processo foi cancelado em junho.

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