Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Gestão de carreiras

Fazer o que gosta? Só se você for muito bom nisso e aceitar os custos da sua decisão

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Mesmo para quem é classe média ou rico, nosso sistema de educação é fraco. Não ensinamos educação financeira, e, mais importante, falta discussão objetiva sobre que faculdade fazer ou carreira seguir.

Há vários motivos para isso, desde a imaturidade natural da adolescência até a falta de dados sobre taxa de retorno de cada carreira. Mas um dos principais é a falta de capacidade das gerações mais antigas de educar as mais novas. E a razão para isso é simples: quem tem mais de 40 anos provavelmente foi traumatizado pela hiperinflação. Ela acabou há 25 anos, mas o seu legado continua vivo: quando se vivia mês a mês, só dava para ter emprego, mas não carreira.

Uma vez brinquei com um amigo meu, jornalista, que ele fez voto de pobreza ao escolher a profissão. A sua resposta: “Hoje eu sei disso, mas não sabia que seria assim quando escolhi fazer comunicação!”.

Em outro exemplo, uma das alunas mais inteligentes que já conheci me disse que ia fazer concurso público ao acabar a faculdade. Mas ela gostava de desafios, tinha um perfil competitivo e queria virar uma cidadã global. Ela poderia tentar criar uma empresa ou uma carreira corporativa e, se desse errado, fazer um concurso depois. Mas preferiu a estratégia conservadora. Resultado: passou fácil num concurso, mas, dois anos depois, estava infeliz com a rotina interessante mas modorrenta do serviço público.

A maioria das dicas de carreira está errada ou, pelo menos, funciona para uma parte bem pequena dos jovens. “Faça o que gosta”, “siga seu sonho”, “se você for bom, qualquer faculdade serve” e “trilhe o caminho dos seus pais” são todos conselhos falhos. Faltam dados, sobra sabedoria de botequim.

O trabalho é um meio para uma vida feliz, e não o fim em si mesmo. Assim, a gestão de carreira ideal é aquela que se encaixa bem nos objetivos de longo prazo de uma pessoa.

O seu objetivo é ter uma vida tranquila, com poucos riscos financeiros, criando seus filhos e tendo uma rotina previsível? Vá fundo, vire concurseiro e tente um emprego público.

Quer seguir seus sonhos, fazendo uma faculdade de letras? Só entre nessa de olhos abertos, sabendo que o salário médio é baixo, e as oportunidades, poucas.

Não sabe o que quer e por isso fez uma faculdade de administração, psicologia ou direito, porque em tese elas dão muitas opões de emprego? Danou-se. A falta de visão de carreira significa que, provavelmente, você estará condenado a um emprego ruim ou sua carreira vai ser incerta, dependendo mais de sorte que qualquer outra coisa.

Temos que ser claros para os jovens: esse é o retorno esperado da carreira X. Seguir a carreira dos pais faz sentido se é para montar vida parecida com as deles.

Para ficar rico, tem que arriscar. Para virar cidadão global, tem que planejar a hora de passar um tempo fora. Para virar acadêmico, tem que buscar a fronteira do conhecimento, ser dono do seu projeto de pesquisa (orientador é seu consultor, e não quem decide o que você vai pesquisar e como) e parar de reverenciar sem crítica o que bambambãs disseram há décadas.

O mundo moderno é hipercompetitivo, mas ao mesmo tempo oferece a oportunidade de cada um montar um planejamento de longo prazo para sua carreira. É quase um jogo em que, se você tem medo de perder o emprego, já perdeu, e, se não tem medo algum, também dançou.

Fazer o que gosta? Só se você for muito bom nisso e aceitar os custos da sua decisão.

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