Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Reta final

Nada seria mais nobre que se endividar para salvar brasileiros

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No tempo que você demorar para ler esta coluna, dois brasileiros terão morrido de Covid-19. Pior, sabemos como combater a doença, que requer capacidade burocrática e execução séria de políticas de saúde e econômicas.

Hoje, a decisão de fazer políticas de confinamento e estender auxílio emergencial e crédito às empresas não tem mais a incerteza do começo do ano. Sabemos que é questão de tempo até os brasileiros estarem vacinados.

Qualquer política pública pode ser implementada com data de expiração em meados de 2021. Mesmo o governo de Donald Trump, que, assim como o presidente brasileiro, ativamente sabotou as políticas locais e nacionais de distanciamento social, criou a Operação Warp Speed para acelerar a produção e a distribuição de 300 milhões de dólares em vacinas contra a Covid-19.

Mais do que nunca, o governo tem um dever moral de salvar o maior número possível de brasileiros. Não é segredo que o governo de extrema direita tem sido omisso e se esquiva das suas responsabilidades com a ladainha de que o combate da pandemia cabe aos estados.

Esse argumento não se sustenta. Em todos os países, a conexão entre políticas de distanciamento e auxílio econômico é feita via governo federal. Políticas como o auxílio emergencial foram enfiadas goela abaixo da equipe econômica pelo Congresso Nacional, mas foram operacionalizadas pela União, e não pelos estados.

Essa é a última oportunidade de fazer algo pelos mais vulneráveis à doença. Precisamos que o governo central feche a maior parte dos estabelecimentos comerciais, ao mesmo tempo que estenda o auxílio emergencial e as políticas de crédito para que famílias e empresas sobrevivam até termos alguma imunidade coletiva como resultado da vacinação em massa.

Não precisa ser um professor de finanças pra entender que, se a vacina vai reduzir drasticamente o número de pessoas infectadas, qualquer investimento para salvar vidas hoje vai gerar um retorno social imenso.

É impensável que a equipe econômica, com a vacinação já começando no mundo, acabe com o auxílio emergencial justo neste momento; o pagamento da última parcela está programado para até o dia 23 deste mês.

Não faltam exemplos de países que estão criando medidas de confinamento temporárias. Na Dinamarca, por exemplo, o governo anunciou confinamento em mais 31 cidades; agora, quase 80% da população do país sabe que não pode sair de casa, a não ser por motivos extraordinários, até o dia 3 de janeiro. A Alemanha vai para o mesmo caminho.

Mais do que nunca, é hora de diminuir a atividade econômica para salvar vidas. Certamente, a queda no PIB assusta, mas o PIB nada mais é do que um indicador que usamos por conveniência porque é difícil estimar, com precisão, como varia o bem-estar social da população de um país. Não há bemestar possível com 700 brasileiros morrendo diariamente.

Os economistas do governo ficam distorcendo dados econômicos para tentar vender que o Brasil estaria se recuperando e dizem que o governo poderia ter dificuldade de se financiar, mas nenhum país sofreu restrição de endividamento para salvar vidas.

Existe demanda por títulos públicos mesmo à taxa Selic em 2% ao ano. Não falta liquidez se for para o governo agir com responsabilidade.

Já criamos dívida pública para fazer muita coisa errada. Nada seria mais nobre que se endividar para salvar brasileiros. Não é hora de esperar

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