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Governo de SP aponta alta de casos de Covid-19 e reduz horário de funcionamento de bares

Secretário de Saúde de São Paulo citou aumento de infecções e internações e disse que o foco hoje é o jovem

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São Paulo

O governo de São Paulo, com base no aumento de casos de Covid-19 no estado, determinou que bares só poderão funcionar até as 20h.

Os restaurantes seguem funcionando até as 22h, mas só podem vender bebidas alcoólicas até as 20h. A venda de bebidas alcoólicas em lojas de conveniências também está restrita a esse horário.

A medida terá início na madrugada deste sábado (12) e deverá seguir por 30 dias corridos.

O anúncio foi feito em entrevista coletiva a jornalistas nesta sexta-feira (11) com a presença do secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, e dos demais membros do centro de contingência do coronavírus.

Assim como as novas regras para funcionamento de bares e restaurantes, o governo anunciou que vai expandir de 10 para 12 horas o horário de funcionamento do comércio no estado. Agora, lojas e shoppings permanecem abertos até as 22h.

Segundo o governo, a expansão é uma tentativa de diminuir as aglomerações e conter a disseminação do vírus. O governo já havia admitido, no dia 3 de dezembro, a alta de casos de Covid-19 no estado.

De acordo com os dados de saúde apresentados, houve aumento de 26,9% de novos casos entre as semanas epidemiológicas de número 47ª e a 49ª e de 30,3% de óbitos. As internações em hospitais públicos e privados aumentaram em 15,5%.

Gorinchteyn afirmou, no entanto, que a taxa de ocupação de leitos na Grande São Paulo, atualmente de 64,4%, está abaixo do verificado no final de maio, de 92%. "O que é importante é que nós tivemos alta de ocupação de leitos, mas está muito distante do pico no início da pandemia. Nós não estamos aguardando índices alarmantes para tomar estratégias, estamos agindo agora de forma preventiva", afirmou o secretário.​

O governo disse ainda que conta com mais de mil agentes de saúde que farão a vigilância e a fiscalização nos cem municípios com densidade demográfica maior de 70 mil habitantes por km2.

De acordo com Gorinchteyn, o país ainda não atingiu o pico da chamada "segunda onda", mas estaria caminhando próximo para isso. Por isso, o secretário defendeu a adoção de medidas preventivas no estado, para tentar conter o avanço do coronavírus. Não houve, no entanto, o anúncio de recuo da fase amarela do Plano SP para a laranja, mais restritiva.

"As medidas que foram tomadas, especialmente nos meses de outubro e novembro, seja na Europa, seja nos Estados Unidos, ocorreram quando o pico da pandemia estava bem acentuado nesses países, diferente da situação no país."

A medida é acompanhada de um investimento mensal da ordem de R$ 100 milhões para manter em funcionamento cerca de 2.000 leitos de Covid-19 no estado. Esses leitos poderiam ser fechados ou redirecionados para o tratamento de outros pacientes. No entanto, o governo optou pelo direcionamento destes leitos para atender os novos casos de Covid-19.

Segundo o secretário, os 8.500 leitos de UTI de todo o estado estarão integralmente voltados ao tratamento de pacientes com Covid.

Especialistas rebatem o argumento de não ser necessário regredir na fase e dizem que o governo já tinha conhecimento, no início de novembro, da alta de casos.

O estado não optou por fazer a reavaliação do Plano SP no dia 16 de novembro, fazendo apenas uma avaliação um dia após o segundo turno das Eleições, no dia 30 de novembro, quando 76% do estado passou da fase verde, a menos restritiva, para a fase amarela.

Doria afirmou que não era necessária a reclassificação antes das eleições porque os dados à época não indicavam um recrudescimento da pandemia. Além disso, houve um apagão de dados, no início de novembro, quando a rede do Ministério da Saúde ficou fora de ar por cinco dias. No entanto, a mudança de fase um dia após o segundo turno gera dúvidas.

Wallace Casaca, professor de matemática e ciência da computação na Unesp e um dos coordenadores do sistema Info Tracker, que reúne e monitora dados da epidemia no estado, afirmou que a alta de casos já havia sido verificada por ele e seus colegas em meados de outubro.

Agora, com o crescimento cada vez maior de novos casos, é preciso agir antes que o estado colapse. “É possível que em janeiro, São Paulo colapse. No Rio de Janeiro, há fila de 500, 600 pessoas por um leito hospitalar. E lá já estão falando em medidas mais restritivas. Paraná e Rio Grande do Sul falam em lockdown. Como São Paulo, o estado mais populoso, não vai ter medidas mais restritivas?”

Casaca afirma que apenas atentar à ocupação de leitos não é suficiente, e o governo deveria dar mais atenção ao rastreamento e monitoramento dos casos. “As pessoas saem após 30 dias de UTI ainda com sequelas. É preciso monitorar essas pessoas. É preciso acompanhar os novos casos e reduzir novas contaminações. Apenas ter um índice de ocupação de leitos não é suficiente.”

O pesquisador acredita que ainda há tempo para medidas mais drásticas. “A gente entende que tem um contexto econômico, que as pessoas estão exaustas, que o isolamento social está no nível mais baixo possível. Mas isso tudo cria um cenário perfeito para disseminação do vírus. Não vejo outra medida a não ser fechar o comércio de uma forma mais drástica."

Gabriela Lotta, pesquisadora de administração pública e coordenadora do Núcleo de Estudos da Burocracia da FGV, explica que as medidas adotadas agora pelo governo parecem pouco efetivas para lidar com o repique de casos. “No mundo todo, a segunda onda foi acompanhada de medidas mais duras de circulação justamente para evitar o contato e reforçar o isolamento. No entanto, aqui não há medidas mais fortes de prevenção, também não estamos investindo em testagem e rastreamento de contatos, que poderiam ajudar a tomar medidas mais efetivas.”

Lotta afirma ainda que as ações podem ser classificadas como reativas, e não proativas, pois visam atingir apenas as pessoas contaminadas. “Ou seja, depois de nove meses de pandemia, sabemos que a sociedade já está no limite de um isolamento que, por nunca ter sido total, acabou se arrastando ao longo do tempo. Restringir o funcionamento de alguns serviços, como bares e academias, o que pode aumentar a aglomeração dentro deles, e manter abertos todos aqueles serviços que pressionam os governos para não fecharem, mesmo em espaços arriscados, me parece pouco efetivo.”

Diversas cidades do estado de São Paulo já vinham adotando medidas próprias para expansão do horário de funcionamento do comércio, mesmo antes das mudanças de regra da fase amarela. “Por um lado, aumentar o horário de funcionamento das lojas diminui a aglomeração das compras de Natal. Por outro lado, de alguma forma estimula as pessoas a irem às compras, como se estivéssemos em um momento de normalidade para isso. Acredito que o ideal seria uma medida mais restritiva, como fechar o comércio, mas esta iria contra os comerciantes, que é algo que os governantes têm evitado enfrentar”, conclui.

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