Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Reabrem as escolas públicas

Não podemos assistir parados enquanto jogamos fora o futuro das crianças

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Governadores e prefeitos acertaram ao manterem fechadas escolas durante os meses iniciais da pandemia. Mas é hora de reabri-las. Isso não significa fazê-lo de qualquer jeito, nem botar em perigo professores e pais pertencentes aosgrupos de risco. O retorno deve ser, em grande medida, voluntário.

Entretanto, não há outra maneira de limitar os imensos danos a uma geração que está parada, quase sem
ensino, por mais de seis meses.

No mundo ideal, o governo federal teria feito um “lockdown” decente e estabelecido métodos eficientes de rastreamento dos casos. Poderíamos, então,reabrir tudo, com monitoramento quepermitisse pegar qualquer surto de transmissão bem no começo.

Mas o nosso governo federal é omisso e isso não vai mudar. Consequentemente, precisamos criar regras locais para restabelecer o ensino presencial, principalmente para as crianças no ensino fundamental, que são as que mais perdem com a paralisação das atividades escolares.

No fundo, a pandemia é mais que uma questão de saúde; ela também descortina a imensa desigualdade da sociedade brasileira.

Famílias mais pobres não podem pagar creches e muitas não tem familiares com quem deixar as crianças para trabalhar. Além disso, escolas são lugares onde crianças adquirem habilidades sociais. Pais ricos podem pagar professores particulares e ensinar seus filhos com cursos online que são inacessíveis às famílias mais pobres.

Trabalho de Hart e Risley (2003), por exemplo, demonstra que as crianças mais pobres ouvem, até a idade de 3 anos, em média 30 milhões de palavras a menos que aquelas crianças em famílias ricas.

Existe uma diferença quantitativa na simples exposição de crianças ao aprendizado que é fruto da diferença de ambiente social. O que acontece com essa diferença quando as crianças mais pobres estão afastadas da escola e sem estímulos constantes de aprendizado?

Há evidências de que a abertura de escolas não aumenta em nada a transmissão do vírus, por mais contraintuitivo que isso possa parecer. Estudo de Isphording e coautores, que acabou de sair, mostra que na Alemanha a volta às aulas com manutenção de regras de distanciamento social chegou a diminuir a transmissão do vírus em algumas regiões.

Já Emily Oster encontra, para os EUA, que o número de infecções em escolas é baixo, mesmo em lugares que apresentam altas taxas de transmissão de Covid-19.

Por isso, e pela importância da educação, ao redor do mundo, à exceção da América Latina, as aulas já voltaram e novos “lockdowns” fecham tudo, menos as escolas. Em Portugal, que está em estado de calamidade, o entendimento do governo mudou completamente: agora, só em situações muito extraordinárias, seja por casos circulando dentro da escola ou propagação comunitária elevada, escolas são fechadas.

Escolas particulares já podem funcionar no Rio de Janeiro. Nas escolas públicas, somente alunos do 3º ano do ensino médio e do 4º módulo de educação de jovens e adultos puderam optar por voltar. Deixar as escolas públicas fechadas é ampliar o abismo entre ricos e pobres.

Não há risco zero e é claro que planos de reabertura devem ser cuidadosos. Professores em grupo de risco devem manter-se isolados. Distanciamento social e medidas de higiene devem ser seguidas à risca.

Precisamos de testes para se monitorar se uma determinada escola é foco de transmissão. Entretanto, o que não podemos fazer é assistir parados enquanto jogamos fora o futuro das nossas crianças.

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