Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Muitos, mas muito Mais Médicos

Médicos sírios? Venezuelanos? Ucranianos? Venham todos

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O Brasil precisa de mais médicos (e dentistas e enfermeiros) para ontem. Tentamos suprir essa deficiência com o programa Mais Médicos, um passo adiante, mas insuficiente para suprir os problemas de oferta de profissionais médicos no interior brasileiro. O Médicos pelo Brasil, do governo anterior, foi um fracasso e deixou centenas de cidades a descoberto.

Temos uma gigantesca desigualdade na distribuição de profissionais de saúde pelo país. Formandos buscam especialidades bem pagas em centros urbanos. Não faltam médicos no Rio de Janeiro, em Porto Alegre ou Manaus. Mas, para atrair profissionais, prefeituras e governos do interior têm que pagar muito bem, o que cria uma situação crítica: as cidades mais pobres pagam muito mais por profissionais de saúde.

Médicos atendem refugiados no Hcor - Eduardo Knapp/Folhapress

Em 2009, o irmão de uma ex-namorada ganhava mais de R$ 20 mil por mês como dentista terceirizado em uma cidade do interior do Amapá. Hoje, na cidade de Amapá (MA), dos 550 funcionários da prefeitura, os 5 maiores salários são os 5 médicos com carteira assinada pela cidade (entre R$ 10 mil e R$ 13 mil por mês). Em sexto lugar, vem o prefeito. Devem ser muitos os outros profissionais de saúde como terceirizados, ganhando até mais que isso (o PIB per capita anual da cidade é de R$ 7.900).

Cada um dos 7.000 cidadãos da cidade merece ser bem tratado pelo Estado, mas estamos longe de fazê-lo de forma eficiente. E não, a solução não é reduzir remuneração de profissionais à força —se com esses valores não temos profissionais suficientes no interior, abaixá-los à força só iria piorar o problema.

Esse não é um problema somente brasileiro. Dos 18 mil médicos da Dinamarca, 2.000 são estrangeiros. E, enquanto o país não tem acordos formais com um país como Cuba, a ideia é similar. Médico formado na Índia? Por favor, venha para a Dinamarca por um certo número de anos e depois volte para casa.

Aliás, organizações de pacientes estão pressionando o governo para deixar ainda mais médicos e enfermeiros estrangeiros trabalhar no país, já que o sistema de saúde está assoberbado. Como no Brasil, as associações de médicos tentam barrar a entrada de potenciais competidores.

O programa Mais Médicos estava longe de ser bem desenhado. O mais importante seria incentivar que médicos estrangeiros quisessem morar no Brasil permanentemente. Dar-se ao trabalho de treinar e ajudar milhares de profissionais a criar laços com o país e depois não entregar cidadania? Não somos a Dinamarca, onde há até xenofobia em políticas públicas. Temos profissionais em todos os confins do mundo, muitas vezes mais bem treinados que no Brasil, que estariam dispostos a viver por um bom tempo juntando dinheiro no interior brasileiro.

Trazer profissionais de saúde com contratos de 5 a 7 anos, com cidadania no final, seria uma excelente saída para aumentar a oferta de profissionais de saúde no Brasil. Se há uma coisa que fazemos bem é integrar estrangeiros no nosso tecido social. Não precisamos fazer isso com o governo cubano, embora haja excelentes profissionais no país. A ideia é mesmo roubar "cérebros" do exterior. Nada de expulsar quem gostar do país.

Médicos sírios? Venezuelanos? Ucranianos? Venham todos. Dentistas? Enfermeiros? Venham também. Não precisamos de Mais Médicos, e sim de Muitos Mais Profissionais de Saúde. E um SUS melhor. Para ontem.

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