Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

O preço da liberdade

A vida é muito mais tranquila quando você sabe o que realmente quer

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"Quanto você quer para trabalhar para mim?" "Desculpe, mas sua empresa não tem dinheiro suficiente para isso." "Como não?", respondeu, exasperado, o CEO. "Você tem ideia do nosso faturamento?" "Você não entendeu", respondi. "Não quero trabalhar para você. Se quiser, conversamos sobre como posso trabalhar com você."

Liberdade sempre tem um preço. Obviamente, muitas vezes não temos opções. Se falta comida à mesa, liberdade não é prioridade e fazemos o que for necessário para sobreviver. Mas montar uma carreira na qual você não tem chefe é possível, desde que você entenda o que está abandonando.

Não cresci com desejo de ser professor, mas a carreira foi se abrindo à medida que fui descobrindo que não queria ser mandado nem mandar em ninguém.

Vista de cima mostra uma pessoa sentada no chão, acariciando um gato enquanto trabalha com o computador no colo. No chão também estão jogados papéis, um calendário, uma caneca de café e um pedaço de pizza
Catarina Pignato

Fui demitido em duas semanas do meu primeiro emprego, já que era péssimo em seguir ordens que não faziam sentido. Fazia as coisas da forma que achava mais eficiente, o que não pegava muito bem com quem gostava das coisas feitas do seu jeito.

Privilegiar a liberdade significou dizer não para muitas oportunidades na minha carreira. Quer ser diretor de sustentabilidade em um dos três maiores bancos americanos em Nova York? Não, obrigado.

E ser CFO de uma empresa média no Pará? Tentador, mas também não. Quer ser diretor de MBA? "Envolve burocracia e não poder dispor do meu tempo ou posso fazer de forma eficiente, delegando quando possível e escolhendo quando estar no programa?" "Não, significa vir ao trabalho todo dia, porque a equipe está habituada com o líder do programa estando lá sempre." "Então, passo."

Liberdade não é só abandonar oportunidades e, às vezes, salários muito mais altos. É também saber que há objetivos muito interessantes que você nunca vai alcançar.

"Tem uma chamada para projetos multidisciplinares com gente de vários países. Topa ser coinvestigador principal?" "Desculpa, mas não. Se for para fazer minha parte, combinando com coautores da forma que quisermos, faço, mas liderar e lidar com burocracia não dá pra mim."

É importante saber seus limites. O meu é tentar passar pela vida perdendo o mínimo de tempo com burocracia ou requisitos sobre meu tempo.

Caso real: uma universidade famosa do Brasil falsificou meu pedido de afastamento para não pagar férias. O sindicato disse que era causa ganha e indicou que eu deveria entrar na Justiça. Abandonei o dinheiro para não me aborrecer.

E esse desejo por independência e liberdade é também intelectual. Não faço parte de grupinhos. Obviamente, isso significa que nunca vou poder contribuir para o país fazendo parte de uma equipe de governo. Mas tudo bem, eu seria demitido em 24 horas, depois do primeiro não que eu dissesse para um chefe ou ministro. É libertador não precisar defender político ou gente de um partido, sabendo que uma ideia é ruim, só porque é preciso mostrar lealdade para um grupo político.

Quais são os seus valores inegociáveis? Demorei muito, mas consegui articular quais os meus. Não tenho grandes ambições monetárias e nenhum apego por poder. Não quero participar de grupos políticos. Desejo demais poder contribuir para o país, mas do meu jeito. E não vejo outra carreira que não a de intelectual independente. Mas essas são as minhas escolhas, que servem para poucos.

A lição da história é: quais os seus valores? Do que você não abre mão? Vale a pena deixá-los claros. A vida é muito mais tranquila quando você sabe o que realmente quer.

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