Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu universidade

Inteligência artificial dentro do ensino

Vamos esperar IA mudar nosso mundo ou vamos tomar as rédeas do processo?

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Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Esses são os cinco estágios do processo de luto que a maioria de nós passa quando perde um ente querido ou até mesmo um emprego.

No semestre passado, algo parecido aconteceu na NYU, uma das principais universidades do mundo (no meu departamento, são cinco os Prêmios Nobel). Em um período de duas semanas, o uso de ChatGPT e outras ferramentas de inteligência artificial explodiu entre os alunos. Mas, ao final do processo de pesar, os professores não só aceitaram que o mundo mudou mas começaram a estabelecer estratégias de ensino que incorporam essas novas tecnologias. E essas mudanças vão se espalhar; a questão é se as universidades, como as brasileiras, vão ser reativas ou proativas nesse processo.

Entretanto, mudanças são difíceis. Em um primeiro momento, a reação dos professores foi de pesar. Afinal, para a maioria das matérias, alunos têm que escrever ensaios ou relatórios, já que a base do ensino lá é formar capacidade crítica; provas em sala de aula não chegam a ser exceção, mas não são a regra.

"Basta dizer que os alunos não podem usar IA", sugeriram alguns. Antes das primeiras datas para entrega de trabalho, a escola soltou uma nota para os alunos dizendo que o uso de IA estaria terminantemente proibido. Mas isso não durou muito. "Se você fosse aluno, você não teria curiosidade para ver como IA iria lhe ajudar, mesmo que sua intenção não fosse burlar as regras?"

Colegas começaram a vociferar que IA tornaria seu trabalho impossível, enquanto outros chegaram a quase entrar em depressão. Mas rapidamente a universidade traçou uma estratégia para manter os padrões de ensino enquanto ajudaria os professores a não só incorporar inteligência artificial aos seus currículos mas também ajudar os alunos a navegar pelas novas técnicas que estão se espalhando pelo mercado de trabalho.

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Estudante no Recife durante o ensino remoto devido à pandemia de Covid - Leo Caldas - 20.ago.20/Folhapress

De certa forma, a rápida preparação para a incorporação de inteligência artificial no ensino pôde ser feita rapidamente pelo impacto da Covid; em três semanas depois do lockdown de Wuhan, em janeiro de 2020, a NYU Shanghai já tinha montado a estrutura necessária para que os professores pudessem ministrar seus cursos de forma síncrona ou assíncrona, de acordo com suas preferências.

Em relação aos métodos, a escola montou uma força-tarefa para juntar os melhores pesquisadores de pedagogia e ciência de computação para criar cursos para os professores sobre como incorporar IA nos seus cursos (dependendo das suas necessidades).

Em termos de avaliação, muitos professores passaram a fazer provas orais ou modificaram seus ensaios para essa nova realidade. O interessante é que, historicamente, provas orais eram o padrão em universidades medievais; em algumas universidades, como as italianas, elas ainda são comuns.

Obviamente, há várias barreiras para que esse tipo de prova funcione no mundo moderno, já que pesquisas mostram que há várias distorções que devem ser ajustadas para que essas provas sejam justas. Por exemplo, alunos homens mais assertivos tendem a ter notas mais altas por falar com confiança, mesmo que o conteúdo não seja tão bom.

Professores também têm que tomar cuidado para não punir alunos introvertidos. Com o tempo, o corpo discente e docente acaba se acostumando com o processo.

Ainda assim, resta a pergunta: vamos esperar IA mudar nosso mundo ou vamos tomar as rédeas do processo?

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