Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu juros Selic

Juros brasileiros e mundiais

Valorização cambial trazida pelos investidores estrangeiros ajuda o Banco Central no combate à inflação

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Estamos vendo a volta do "carry trade", fenômeno global no qual investidores pegam dinheiro emprestado em países com baixas taxas de juros e compram títulos públicos de governos nos quais taxas de juros são elevadas.

O resultado, em parte, é de desvalorização cambial nos países de baixos juros e valorização nos países que pagam retornos altos, no primeiro momento. Como exemplo, o iene está no seu nível mais baixo, em relação ao dólar, desde a década de 1980. Nem no auge da crise financeira japonesa da década de 1990 o iene esteve tão desvalorizado. A razão? A taxa de juros no Japão está em 0,1%, enquanto nos EUA passam de 5% e, no Brasil, dos 13%.

Ou seja, muitos investidores, apostando na estabilidade mundial, inclusive do câmbio, pegam dinheiro emprestado no Japão para investir em títulos do tesouro dos EUA ou países da América Latina, como o Brasil.

Fachada do Banco Central, em Brasília
Fachada do Banco Central, em Brasília - Gabriela Biló/Folhapress

Durante grande parte dos anos 2000, essa aposta gerou montanhas de dinheiro. Enquanto os juros no Brasil estavam na casa dos 20% e, no resto do mundo, cerca de 4 a 5%, investidores ganhavam dinheiro no diferencial de juros e na valorização do câmbio brasileiro; foram os investidores de "carry trade" os que mais ganharam no processo de valorização do real de R$ 3,99 em 2001 para menos de R$ 1,60 em 2008.

A farra acabou na crise financeira de 2008 e muitos fundos perderam grande parte dos ganhos: "ganhos sobem de escada, enquanto perdas podem descer de elevador" é uma das máximas de mercados financeiros. Ainda assim, há potenciais de ganhos com esse tipo de estratégia, o que explica a recente valorização do real, que está sistematicamente abaixo de R$ 5 por dólar. Não é só no Brasil.

No primeiro semestre de 2023, entre as sete moedas mundiais que mais se valorizaram estavam o peso colombiano, o peso mexicano e o peso chileno e o sol peruano. Em comum? Esses países latino-americanos começaram a subir os juros bem antes do resto do mundo.

A teoria econômica diz que as diferenças de taxas de juros internacionais e o mercado de câmbio futuro incorporam as expectativas de desvalorização futura da moeda onde os juros estão mais altos. A aposta dos investidores é que essa desvalorização não vai acontecer. Ou seja, os investidores internacionais estão, de certa forma, esperando que a gestão do governo Lula 3 não seja muito diferente do primeiro governo do PT, no qual o superciclo de commodities e as boas políticas internas levaram a uma constante valorização da moeda brasileira.

E se essas apostas aumentaram, o câmbio brasileiro vai continuar se valorizando, mesmo se os juros começarem a cair. Além disso, se os juros americanos começarem a subir, como parece que o Fed vai continuar a fazer, as apostas vão mudar: por que comprar títulos latino-americanos se os americanos começarem a pagar taxas absurdas?

No momento, a valorização cambial trazida pelos investidores estrangeiros (e pelo saldo comercial) ajudam o Bacen no combate da inflação. Em pouco tempo, chegará a hora de deixar os juros caírem no Brasil. Quem ganha dinheiro com "carry trade" não vai gostar. Mas a inflação brasileira está perto de ser debelada. E mesmo com o impacto no câmbio, a melhor política vai ser a diminuição dos juros. Enquanto isso, os gringos (e os brasileiros) se aproveitam dos 13,75% da Selic. Será que, quando baixar dos 10%, nunca mais veremos taxa de juros de dois dígitos? Podemos sonhar.

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