Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu América Latina

O futuro do turismo no Brasil

Com burocracia e barreira geográfica, país afasta estrangeiros

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Final de ano e o Brasil poderia estar cheio de turistas estrangeiros, mas não acontecerá. Recebemos 6 a 7 milhões de turistas por ano. E o objetivo do governo é que esse número chegue a 8,1 milhões até 2027.

A Tailândia, com 6% da área do Brasil, recebe esse número de estrangeiros em 2 a 3 meses. Não há somente uma razão para isso (estar perto da China ajuda os tailandeses), mas entre os principais motivos está um sob controle das instituições brasileiras: fricções.

Toda vez que chego no Brasil e vejo a fila de imigração dando voltas, com dezenas de pessoas esperando para entrar no país, me pergunto: por que diabos dificultamos o acesso de turistas ao Brasil? Não gostamos de ganhar dinheiro? Qualquer turista pode comprar um Roma Pass ou criar um cartão de transporte online em Praga. A maioria dos hotéis na Tailândia oferece preços quase subsidiados para pegar os hóspedes no aeroporto.

Passageiros formam filas em aérea de aeroporto
Passageiros fazem fila para entrar no setor de embarque e controle de passaporte no aeroporto de Guarulhos - Joel Silva - 29.jun.14/Folhapress

Se um país quer receber mais turistas, deve reduzir todas as barreiras inúteis para que um estrangeiro desfrute a cidade, especialmente se o objetivo é volume de visitantes e não somente atender as camadas mais ricas, que gastam dinheiro sem problema para resolver todas essas barreiras. Quem dera o problema de atrair turistas no Brasil fosse só a segurança. É muito mais do que isso.

É comum ouvirmos que temos praia, samba, carnaval e muito mais. Tudo isso é verdade. Mas, por incrível que pareça, não temos tanta vocação turística quanto as pessoas acreditam. Geografia é a principal barreira: como não temos países ricos à volta, viajar para o Brasil requer de 10 horas a mais horas para a maioria dos consumidores de alta renda norte-americanos, europeus e asiáticos.

Não temos como mudar o país de lugar e é melhor esperar sentado os argentinos, peruanos e outros sul-americanos enriquecerem. Entretanto, há muito que podemos fazer para aumentar o número de chegadas no Brasil, na margem. As autoridades e instituições do setor deveriam formar uma força tarefa com um só objetivo: reduzir o custo cognitivo de viajar pelo país.

Tomar decisões custa tempo e dinheiro. Evito ao máximo viajar para países que exigem visto, por não querer gastar tempo com burocracia. Também evito os países que exigem quase um doutorado em regras locais para se visitar. Conversando com gente que gostaria de visitar o país, as primeiras perguntas são sempre as mesmas: Há necessidade de visto? As pessoas falam inglês? Como consigo internet? Há cartão de transporte para turista? É seguro?

Viajar para o Brasil deveria ser a coisa mais fácil do mundo. Temos uma excelente cultura xenofílica. Não conheço um estrangeiro que não tenha comentado como foi bem tratado pelas pessoas. Mas precisamos de muito mais que isso para vencer as barreiras geográficas. É preciso um esforço institucional forte para se reduzir barreiras.

Imagine um portal no qual um gringo pudesse comprar um e-sim temporário, cartões de transporte digitais, e visto eletrônico em um pacote, com dois ou três cliques? Um Rio onde o turista pudesse comprar sua canga na praia sem ser extorquido? E uma visita a Bonito que pudesse ser marcada facilmente?

Um amigo italiano diz que turismo é militância, sofrimento e stress. Até pode ser verdade, mas isso não quer dizer que devemos estressar nossos hóspedes até não quererem mais visitar o país. Podemos ser o país do futuro. Hoje.

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