Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Prosperidade não vem por decreto

Para o bem da economia mundial, é melhor que o governo chinês volte a estimular a hipercompetição

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A economia chinesa continua andando de lado, algo que acaba afetando todos os brasileiros. A última vez que crescemos acima de 7% foi em 2010, quando a dinâmica chinesa tirou o mundo da recessão pela crise financeira de 2007/9. Não por coincidência, 2010 também foi a última vez que a China cresceu acima de 10%.

A China patina por causa das antirreformas econômicas no país. Em vez de remover amarras, como a corrupção e ineficiência presentes em vários setores, o governo resolveu podar o setor privado. O resultado está aí: uma economia fraca que põe em risco os imensos ganhos dos últimos 40 anos; é possível que a China se prenda à armadilha da renda média, onde o Brasil se encontra há décadas.

Complexo de prédios residenciais inacabados em Xinzheng, interior da China - Pedro Pardo - 20.jun.2023/AFP

Em 2021, o presidente Xi Jinping lançou o programa de "prosperidade comum" para combater a desigualdade e levar riqueza para todo o país, e não somente à elite urbana. Até aí, tudo bem. Sabemos que a teoria do bolo, tão debatida nas décadas de 1970 e 80 no Brasil, que diz que um país deve primeiro crescer para depois distribuir renda, é uma furada.

É uma perversão da curva de Kuznets, que mostra que a desigualdade tende a subir à medida que o país se industrializa, diminuindo posteriormente. Os "gênios" dos governos militares acharam que isso era algo desejado, em vez de algo a ser combatido ou, pelo menos, suavizado.

O problema é que a prosperidade comum, assim como várias outras ações do governo chinês nos últimos anos, tem pouco a ver com desigualdade. As regulações contra as empresas de tecnologia limaram mais de US$ 1 trilhão do valor de mercado de somente quatro empresas: Alibaba, Baidu, Didi e Tencent. O resultado? Forte corte de investimentos. Além disso, medidas para limitar remuneração de executivos e demonizar os bilionários chineses acabaram tendo um efeito perverso: limitou a hipercompetitividade, principal característica do capitalismo chinês, talvez o mais agressivo do mundo.

Vários bilionários anunciaram doações gigantescas para as campanhas da "prosperidade comum", mas o problema chinês não é falta de dinheiro. Para além das estranhas regulações, há que se considerar ainda as restrições impostas pelos americanos e a fraqueza do setor imobiliário. Esses fatos ajudam a explicar por que a economia continua fraca mesmo depois da reabertura econômica após os surtos de Covid.

A "prosperidade comum" parecia uma excelente ideia: colocar o governo de Xi como preocupado com a desigualdade econômica; quem sabe, uma versão asiática do "pai dos pobres". Mas as ações acabaram travando investimentos do setor privado e todos pagam o pato.

Nesta semana, vários bilionários vieram à tona para anunciar que apoiam o mais recente plano do governo Xi Jinping para reerguer a economia. Isso é um sinal de que o governo entende que os incentivos ao setor público em vez do setor privado foram longe demais. A preocupação agora é fazer o país crescer. Contudo, o estrago está feito. Quando se freia competição, o processo não se renova rapidamente.

Hoje, investidores privados estão muito mais cautelosos. A China vivia, em grande parte, do "espírito animal" (termo cunhado por Keynes) dos capitalistas chineses. Sem esse espírito, a economia não volta a se acelerar. E essa é a grande dúvida: será que o governo chinês voltará a estimular a hipercompetição? Para o bem da economia mundial, é melhor que sim.

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