Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro
Descrição de chapéu

A cidade do futuro

Uma realidade a esperar sentado

Cena de 'Metrópolis', de Fritz Lang
Cena de 'Metrópolis', de Fritz Lang - Reprodução

Mesmo quem nunca assistiu a “Metrópolis”, filme de Fritz Lang, de 1927, conhece a imagem a que sempre se recorre quando se fala dele. É a que mostra a cidade do futuro, com torres art déco ligadas por passarelas, sobre as quais carros trafegam a 60 andares de altura, e aviõezinhos voejando alegremente entre os arranha-céus. É espetacular. Mas, por mais fascinado que eu seja pela cidade moderna, torço para que aquela visão de “Metrópolis”, tão fora da escala humana, nunca chegue à vida real. 

Pelo que tenho lido, no entanto, ela virá, em menos de 20 anos, e talvez não seja de todo má. Num primeiro estágio, os carros continuarão a ser o principal meio de transporte, mas só então farão jus ao nome de “automóveis” —porque abolirão de vez os motoristas. Como serão elétricos e não mais a gasolina, e só deixarão as garagens para prestar serviços compartilhados, a frota será reduzida ao mínimo, o que tornará as ruas e estradas mais limpas, seguras e silenciosas. Será também o fim dos engarrafamentos, acidentes, postos, seguro, roubos, multas, flanelinhas, IPVA e outros pesadelos da vida ao volante.

Num futuro nada remoto, os próprios carros serão dispensados porque as pessoas trabalharão em casa, terão todos os serviços em seus bairros e suas compras, feitas por comércio eletrônico, serão entregues em casa por drones e robôs. E, para deslocamentos dentro da cidade, haverá os Ubers aéreos, que nem os aviõezinhos de “Metrópolis”, só que também elétricos e sem piloto. Pode esperar. 

Os cientistas e futurólogos estão muito seguros de suas previsões. Talvez porque sejam americanos, chineses, alemães, japoneses.

No Brasil, teremos primeiro de combinar com os caminhoneiros, os donos das transportadoras e os ferrabrases que eles contratam para fechar as estradas e parar o país. Aqui, caminhão sem motorista não vai a lugar nenhum. Donde vamos esperar sentados.    

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.