Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Fiasco na gastronomia

Para brasileiros em Moscou, estrogonofe russo perde de goleada

Estrogonofe servido no Café Pushkin, em Moscou
Estrogonofe servido no Café Pushkin, em Moscou - Una Stefanovic/Divulgação

Leio no meu amigo Carlos Maranhão que os brasileiros na Rússia para a Copa do Mundo estão se queixando do estrogonofe local. Parece que, apesar de inventado pelos chefs particulares de Ivan, o Terrível, o dito estrogonofe não se compara ao que se come no Brasil. É cortado em tiras, não em cubinhos. Não leva ketchup ou creme de leite, nem é servido com arroz e batata palha. E eles não têm as nossas variedades de frango e camarão. Para piorar, chamam-no de “estroganofe”. 

Brasileiros longe de casa vivem se decepcionando com a cozinha dos países que visitam. Outro amigo, perdido certa vez nos montes Tártaros, região a leste dos Urais paralela ao rio Volga, na mesma Rússia, entrou numa estalagem e pediu o que pensava ser o prato da região: o bife tártaro. O garçom solicitou ao meu amigo que o descrevesse. Ao ouvir que se tratava de carne moída crua, temperada com cebola picada também crua e coroada por uma gema de ovo definitivamente crua, ficou horrorizado. Não, os tártaros preferem seus bifes bem passados, explicou. 

Idem, quem pede um bife à milanesa em Milão recebe na mesa uma linda posta de carne cozida, escoltada por um suave molho de ervas, e não aquela carne surrada a martelo, desidratada de seus sucos naturais e condenada à asfixia ao ser empanada, como no Brasil. E cuidado ao pedir um cozido à portuguesa em Lisboa —existe e é ótimo, mas não leva banana, milho ou batata-doce, ingredientes que lhe foram acrescentados aqui.

E não me vá pedir um camarão à baiana em Salvador. Os baianos não o conhecem, nem precisam conhecer —porque, na Bahia, todos os camarões são, não à baiana, mas baianos mesmos, legítimos filhos e netos de camarões baianos. 

Incapazes de ler cardápios em cirílico, há brasileiros em Moscou que já teriam morrido de inanição se não fosse o limão na única receita que conseguiram ensinar aos garçons russos: a caipiroska. 

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