Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

Horrores ao redor

As cidades são condenadas por séculos a prédios bufos e estapafúrdios

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

A Ópera da Bastilha, em Paris, foi eleita o prédio mais horrendo da Europa. Não é pouco numa cidade que, depois de séculos como exemplo das maravilhas que o homem é capaz de construir, dispôs-se a abrigar uma galeria de aleijões arquitetônicos. Eu estava lá em julho de 1989, cobrindo a festa do bicentenário da Revolução Francesa, e vi o desgosto dos parisienses diante de dois súbitos estrupícios: o Centro Pompidou-Beaubourg, no lugar de Les Halles —o antigo mercado, “o estômago de Paris”—, e o Arco de La Défense, um monstruoso cubo oco, nas costas do Arco do Triunfo.

É verdade que, desde 1974, os franceses já tinham a Torre de Montparnasse, um falo de 209 m de altura numa cidade que, exceto pela Torre Eiffel, nunca quis passar do 5º andar. E ainda precisariam se conformar com uma pirâmide de vidro no pátio do Louvre, bloqueando para sempre a visão de conjunto do prédio do museu. Sem falar nas colunas listradas, tipo camisa do Botafogo, dentro do Palais Royal, onde, em 1789, Camille Desmoulins gritou “Aux armes, citoyens!”, e saíram para derrubar a Bastilha. Outros novos candidatos à lista de horrores são a Fundação Louis Vuitton, no Bois de Boulogne, e a Philarmonie de Paris, em La Villete, já provocando cólicas nos cidadãos.

Um artista plástico pode pintar, esculpir ou instalar o que quiser. Sua criação, por mais bufa ou estapafúrdia, ficará confinada em museus e galerias —só uma ou outra escapa para a rua— e será vista por poucos. Mas as criações dos arquitetos são plantadas no meio das cidades e, para o bem ou para o mal, ficam ali por séculos.

No Rio, temos de conviver com a Catedral, um balde gigante emborcado, esmagando os Arcos da Lapa —logo os Arcos, que, um dia, Di Cavalcanti chamou com admiração de “os grandes elefantes”. E com o prédio da Petrobras, outro estupor.

Os de São Paulo, os paulistanos sabem.

A Filarmônica de Paris
A Filarmônica de Paris - AFP

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.