Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

O cantor que mudou a história

Nat King Cole merece ser lembrado pelo que cantou de moderno, não de xaroposo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

LPs de dez polegadas de Nat King Cole, com suas gravações dos anos 40
LPs de dez polegadas de Nat King Cole, com suas gravações dos anos 40 - Silvania Pinto

Nat King Cole, o cantor americano, foi universalmente reverenciado no domingo último (17) pelo centenário de seu nascimento —ele, que morreu tão cedo, em 1965, a semanas de fazer 46 anos. A maioria dos textos citou as gravações pelas quais, segundo consta, ele será lembrado: “Nature Boy”, “Mona Lisa”, “Unforgettable”, “Blue Gardenia”, “Ramblin’ Rose”, “Pretend”, “Too Young” e até a incrível “Cachito”. Nada contra a música romântica, claro, mas precisa ser tão óbvia? 

Pobre Nat. Faz parte da crueldade da indústria cultural que um artista seja lembrado pelo que deixou de mais xaroposo e comercial, como as canções citadas, e não pelo que produziu de vibrante e inovador. Nat merece ficar por muita coisa, a começar por dezenas de faixas dos anos 40, a bordo do King Cole Trio —piano e voz (ele próprio), guitarra e contrabaixo—, como “Lush Life”, “Straighten Up and Fly Right”, “Orange Colored Sky”, “Route 66”, “Walking My Baby Back Home”, “When I Take my Sugar to Tea”, ou apenas ao piano jazzístico, como “The Man I Love”. 

Nat mudou a história. A formação peculiar de seu trio foi imitada por inúmeros trios em seu tempo e ajudou a “baixar o volume” da música popular. E, ao trocar os vibratos e fortíssimos por uma emissão cool ao cantar, ele foi o primeiro cantor moderno de que se tem notícia.

Aconteceu que, por seu potencial junto ao grande público, Nat foi obrigado pela Capitol, sua gravadora, a abandonar o piano e o trio e ir cantar de pé, na frente do palco, acompanhado por grande orquestra. A Capitol o asfixiou também com milhões de cordas e o fez cantar de tudo, de boleros a música country. Mesmo assim, por todos os anos 50 e 60, Nat gravou LPs excepcionais, com arranjos de Nelson Riddle e Billy May. Aliás, foi ele quem sugeriu a Sinatra trabalhar com Nelson Riddle —o que também mudou a história. 

“Graças a Deus por Nat King Cole”, disse alguém. O que Lhe deve ter custado mais de um dia, acrescento eu.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.