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Nat King Cole mostrou que o jazz não precisa de uma bateria

Americano, que faria cem anos neste domingo (17), mudou para sempre a música e foi sucesso na TV

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Entre passar para a história como um dos mais inovadores pianistas do jazz ou se tornar um dos maiores cantores românticos do planeta, Nat King Cole teve a ousadia de escolher as duas coisas.

O cantor e pianista que completaria cem anos neste domingo (17) teve uma vida curta, cercado por fãs apaixonados e amantes puristas do jazz que o consideraram um traidor do gênero.

Nascido em Montgomery, no sul dos Estados Unidos, em 17 de março de 1919, mas criado em Chicago, Nathaniel Adams Coles decepcionou o pai, pastor de uma igreja batista, ao se mudar para Los Angeles. Ali, antes de fazer 18 anos, o filho já tocava em clubes noturnos e tinha se casado.

Ganhando destaque na noite californiana, ele acabaria mudando o jazz --e a culpa foi a falta de um baterista.

Em 1938, Cole assinou contrato para formar um quarteto em um clube da cidade. Na primeira noite, sem ter quem pegasse as baquetas, ele subiu ao palco ao lado de Wesley Price no baixo (depois substituído por Johnny Miller) e Oscar Moore na guitarra.

Sucesso imediato numa época em que o entretenimento musical era dominado pelas big bands, o Nat King Cole Trio durou até 1955 e deu início a uma profusão de trios tocando jazz.

Indo contra a corrente dos pianistas marteladores de teclas, o estilo ímpar de Cole era leve e agradável. Os críticos amavam. Não por acaso iria influenciar gerações de pianistas em busca de uma sonoridade envolvente, de Oscar Peterson a Diana Krall.

Cole mudaria sua vida na metade dos anos 1940, quando começou, relutante, a cantar para atender pedidos nos shows do trio.

O consumo de mais três maços de cigarro por dia contribuiu para um câncer de pulmão e sua morte precoce, aos 45 anos, mas também forjou sua conhecida voz rouca.

Embora transitasse entre o jazz que tocava com o trio e o pop romântico com o qual flertava ao gravar canções, sua voz tinha ligação direta com o blues. A combinação de um jeito suave de cantar com o vozeirão áspero ganhou o mundo.

Antes do fim da década de 1940, ele já colecionava sucessos como "Nature Boy" (1947) e "Mona Lisa" (1949). Mas a confirmação como rei veio em 1951, com "Unforgettable".

Cole desfez seu trio em 1955. No ano seguinte, aproveitando sua experiência de muitas pontas em filmes de Hollywood, que começaram com uma curta aparição em "Cidadão Kane" (1941), ele estreou uma atração musical na NBC.

"The Nat King Cole Show" foi o primeiro programa da TV americana a ser apresentado por um negro. Apesar de índices de audiência muito bons, foi cancelado no ano seguinte porque a emissora não conseguiu vender o show para algum patrocinador.

Os conflitos raciais se acirravam, e Cole mais uma vez se viu dividido entre apoiadores e detratores. Sua militância racial era clara, mas Cole era o artista negro com a maior parcela de público branco nos anos 1950. Ativistas passaram a criticá-lo por aquilo que consideravam uma convivência amistosa com opressores.

Após sua morte, em 15 de fevereiro de 1965, os sucessos populares alimentam fãs até hoje, numa discografia de 28 álbuns e dezenas de coletâneas.

Em 1991, a cantora Natalie Cole, morta em 2015, usou recursos tecnológicos para inserir sua voz numa gravação do pai e criou um dueto em "Unforgettable", que levou o trabalho de Cole a novas gerações.

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