Fã de Sherlock, Arsène Lupin e Raffles, mestres tanto em descobrir objetos ocultos quanto em escondê-los, gostaria de, um dia, participar de uma operação de busca pela Polícia Federal na casa de um corrupto —digo, de um suspeito de corrupção. Como observador, claro. Só para tentar adivinhar os lugares onde o sujeito pode ter escondido seus celulares, armas, munição, dinheiro em espécie, joias, relógios, cartões de crédito, passaportes (quase sempre diplomáticos), contratos ilícitos etc. —material de trabalho dos nossos melhores políticos, empresários, lobbistas, doleiros, advogados, pastores evangélicos, milicianos e outras categorias profissionais.
Fabrício Queiroz, ao perceber a chegada da PF àquela casa de Atibaia, jogou o celular sob o assento do sofá e sentou-se em cima. Li isso e fiquei decepcionado —uma manobra primária, indigna do homem que, por tantos anos, garantiu a boa vida dos Bolsonaros, pagando suas contas e depositando-lhes fortunas. Ao mesmo tempo, não adiantaria a Queiroz jogar o celular pela janela ou dentro do vaso e dar descarga. São os primeiros lugares que os homens agora investigam.
E este é o problema: não há mais esconderijos perfeitos. O motor do carro, a máquina de lavar, o forro dos casacos, o recheio das poltronas e o microondas ficaram tão óbvios quanto a gaveta de meias, a mala com fundo falso e o cofre por trás do quadro. Para piorar, tudo que é preciso esconder toma enorme espaço. Menos o celular —mas o que fazer quando ele toca, como aconteceu há dias na casa do “empresário” Rafael Alves, que julgava tê-lo camuflado numa pilha de roupa suja?
Hoje, qualquer objeto ou informação pode ser rastreado, recuperado ou flagrado no ato. A história está sendo registrada enquanto acontece. Por causa da tecnologia, a vida ameaça ficar difícil para os corruptos.
Em breve, nem a Justiça poderá salvá-los.
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