Gosto de escrever sobre cinema com certa regularidade nesta coluna, embora, às vezes, alguém me reprove por só falar de filmes antigos. Mas nem podia ser diferente: minha única ida ao cinema nos últimos dez anos foi para uma sessão especial de "Um Corpo que Cai" (1958), de Hitchcock, em versão restaurada. Sessão, aliás, memorável, exceto pelos maxilares triturando pipoca ao meu redor e competindo com a música de Bernard Herrmann.
Outro dia, no entanto, um leitor me acusou de "ter saudade dos filmes que vi aos 20 anos". Aí, não. Isso definitivamente não é verdade --embora, se fosse, que mal haveria? Meus 20 anos se deram em 1968, ano em que estrearam aqui "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick, "Persona", de Ingmar Bergman, "A Bela da Tarde", de Luís Buñuel, "A Chinesa", de Jean-Luc Godard, "Bonnie & Clyde", de Arthur Penn, "Playtime", de Jacques Tati, "A Dança dos Vampiros", de Roman Polanski, "À Queima-Roupa", de John Boorman, "O Planeta dos Macacos", de Franklin Schaffner, e outros. Que ano para ir ao cinema, não?
Na verdade, tenho mais saudade dos filmes a que minha mãe deve ter assistido nos seus 20 anos, em 1944: "Pacto de Sangue", de Billy Wilder, "Consciências Mortas", de William Wellman, "Original Pecado", de George Stevens, "Entre a Loura e a Morena", de Busby Berkeley, "O Bom Pastor", de Leo McCarey, "À Meia-Luz", de George Cukor, "Laura", de Otto Preminger.
Ou dos que meu pai viu nos 20 anos dele, em 1930: "Anna Christie", de Clarence Brown, com Greta Garbo, "Hotel da Fuzarca", com os Irmãos Marx, "A Arca de Noé", de Michael Curtiz, "Sem Novidades no Front", de Lewis Milestone ,"Melodia da Broadway", o primeiro musical, "Anjos do Inferno", clássico da aviação.
Grandes tempos e grandes filmes, e todos estão disponíveis no Brasil em DVD ou no streaming. Com o passado logo ali, na prateleira, quem precisa ter saudade?
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