Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Modernista, porém moderno

Você sabia que sem Di Cavalcanti talvez não tivesse havido a Semana de Arte Moderna?

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Fevereiro de 2022 está às portas e não será surpresa se adiarem o Carnaval para a comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna, que se deu naquele mês de 1922. Não serei consultado, óbvio, mas, se fosse, diria por que não? Afinal, já em 1922 a Semana ignorou o Carnaval, embora estivesse a duas semanas dele. Foi pena, porque um dos modernismos no encasacado Municipal poderia ser a declamação da letra de “Ai Seu Mé”, marchinha de Careca e Freire Junior e sátira ao odiado presidente Arthur Bernardes. Pensando bem, isso não seria possível —exceto Di Cavalcanti, os modernistas eram governistas.

Que o centenário da Semana, pelo menos, promova a revalorização de alguns de seus protagonistas. O citado Di, por exemplo. Sem ele, carioca morando em São Paulo, não teria havido em 1917 a famosa exposição de pintura de Anita Malfatti. Foi Di o primeiro a conhecer Anita e a gostar de seus quadros. E foi quem a convenceu a expô-los, o que provocou o brutal ataque de Monteiro Lobato a Anita pelo jornal e congregou em torno dela os futuros modernistas.

Em 1921, foi também Di quem apresentou os rapazes a Graça Aranha, que, ao saber que eles planejavam um festival de arte moderna ou coisa assim, sugeriu-lhes procurar seu amigo rico Paulo Prado, para que ele bancasse a empreitada. Foi Di que Paulo Prado recebeu em seu salon e a quem garantiu que a elite de São Paulo prestigiaria o evento —já ali batizado por Marinete, Sra. Prado, de Semana de Arte Moderna.

O papel de Di Cavalcanti nessa história é pouco valorizado, talvez porque sua ideia de modernidade fosse diferente. Era o único ateu e comunista da turma. Oswald e Mario de Andrade eram carolas de acompanhar procissão, e Oswald, de família latifundiária urbana, quatrocentão orgulhoso e íntimo dos fazendeiros do café e políticos que dominavam o país com suas eleições fraudadas.

Mas, enfim, nem todos os modernistas eram modernos.

Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 22, de autoria de Di Cavalcanti
Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 22, de autoria de Di Cavalcanti - Reprodução

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