Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

O nome daquele disco

O normal -e preguiçoso- é intitular um álbum com o nome do artista ou de uma das faixas

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No fim do ano, botei para tocar "Amoroso", disco de João Gilberto, de 1977. É aquele em que ele se debruçou sobre "Wave" e "Retrato em Branco e Preto", resgatou dois outros jobins menos lembrados, "Triste" e "Caminhos Cruzados", e se deliciou com "Tim-Tim por Tim-Tim" e "Disse Alguém", de seu letrista favorito Haroldo Barbosa. É também aquele em que revelou ao mundo a italiana "Estate" e deu um salto mortal com "'S Wonderful" e "Besame Mucho". O disco não tem uma faixa chamada "Amoroso".

LPs de Norma Bengell, Billie Holiday, Dave Brubeck, João Donato e Tamba Trio e CD de João Gilberto com títulos criativos
LPs de Norma Bengell, Billie Holiday, Dave Brubeck, João Donato e Tamba Trio e CD de João Gilberto com títulos criativos - Heloisa Seixas

Este é apenas o título do álbum. Ao ler a ficha técnica, perguntei-me de quem teria sido a ideia. "Amoroso" é uma palavra em português, e o disco, gravado em Nova York, foi feito pela Warner para o mercado americano. Produtores, músicos, técnicos, todos americanos. João Gilberto, o único brasileiro. Terá sido dele o título? Pode ser e, se foi, palmas para a Warner. Acho pobre dar a um disco como título o simples nome do artista ou de uma das faixas. Gosto de títulos que induzem o ouvinte a pensar sobre o que vai ouvir. Exemplos:

Em 1959, a Odeon lançou um LP de Norma Bengell intitulado "Oh!", com vários ós antes do agá. Era justo --Norma, então famosa como vedete, parecia estar nua na foto. Em 1962, a Philips chamou um LP do Tamba Trio de "Avanço", como se ele estivesse à frente do que então se fazia --e estava mesmo. E, em 1973, a Odeon ousou produzir uma capa com o rosto do artista encoberto e o título "Quem é quem", para só no verso revelar quem era --João Donato, ainda pouco conhecido.

Três grandes discos de jazz foram lançados em 1959 pela Columbia: "Kind of Blue", com Miles Davis, "Time Out", com Dave Brubeck, e "Lady in Satin", com Billie Holiday. Três belos títulos e nenhum se referia a uma faixa. Quem os criou? A Columbia teria alguém só para bolar títulos? Não duvido.

Ouvi dizer que, hoje, com o streaming, ninguém mais pensa em álbuns, quanto mais em títulos. Será verdade?

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