O voto do ministro terrivelmente evangélico do STF, André Mendonça, que ajudou a condenar o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), levou à loucura os porões bolsonaristas. E com razão. Foi para isso que Jair Bolsonaro o infiltrou entre os ministros encarregados de zelar pelas leis? "Não!", urraram. Escalou-o para tumultuar esse zelo, assim como já fizera com o terrivelmente obediente Kássio Nunes Marques. E agora André Mendonça, num surto de consciência, lhe faz essa falseta. "Ingrato, Judas, traidor!" Impossível calcular a torrente de palavrões com que, ao saber do voto, Bolsonaro mimoseou a genitora do ministro.
Horas depois, de orelhas em fogo, André Mendonça convocou o alfabeto para justificar seu voto. E o fez de A a B: "Sinto-me no dever de esclarecer que: [a] como cristão, não creio que tenha sido chamado para endossar comportamentos que incitam atos de violência contra pessoas determinadas; e [b] como jurista, a avalizar graves ameaças físicas contra quem quer que seja". E completou: "Há formas e formas de se fazerem as coisas. É preciso separar o joio do trigo, sob pena de o trigo pagar pelo joio".
Então, para ele, Daniel Silveira é o joio no trigal bolsonarista. Certo. O problema é saber quem é o trigo. Flavio, Carlos e Eduardo Bolsonaro? Augusto Aras? Arthur Lira, Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira? Augusto Heleno, Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos? Paulo Guedes, Damares Alves, Ônix Lorenzoni, Fabio Faria, Milton Ribeiro? Eduardo Pazuello, Osmar Terra, Capitã Cloroquina?
Fabrício Queiroz, Frederico Wassef, Ronnie Lessa, Elcio Queiroz? Luiz Carlos Heinze, Marcos Rogério? Carla Zambelli, Bia Kicis, Marcelo Álvaro Antonio, Janaina Paschoal? Rodolfo Landim, Luciano Hang, Ratinho? Silas Malafaia, Edir Macedo, Marco Feliciano? Magno Malta? Gilmar Santos, Arilton Moura?
Esse é o trigo. O joio vai acabar pedindo separação.
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