Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Nosso caro vice-presidente

Em quatro anos dizendo banalidades, Hamilton Mourão engoliu sapos e petiscos finos

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Em quatro anos como vice-presidente nominal de um governo que, se pudesse, o confinaria no armário das vassouras, Hamilton Mourão apareceu centenas de vezes na TV. A cada barbaridade cometida por Jair Bolsonaro, a imprensa mandava uma equipe à porta do Palácio do Jaburu para ouvir Mourão. E Mourão estava sempre chegando de algum lugar. Descia do carro oficial, abotoava o paletó e, indagado sobre a dita barbaridade, minimizava-a, esfriava-a com descansada displicência e dizia que era aquilo mesmo, coisa banal, sem importância.

Em suas crônicas, Nelson Rodrigues se maravilhava com a impassibilidade de certas pessoas. Um dia, referindo-se a um político estilo Mourão, Nelson escreveu: "Se, num jantar, servirem-lhe ratazana ao molho pardo, ele encarará o prato com a maior naturalidade. E ainda perguntará se não têm uma pimentinha". Mourão fez parecido: digeriu sem reclamar os inúmeros sapos à milanesa que Bolsonaro lhe serviu em forma de desprezo e desrespeito.

Mas Mourão não tinha por que reclamar. Depois de 40 anos encarando a boia do quartel, a Vice-Presidência foi-lhe um maná. Sabe-se disso agora com a abertura do seu cartão corporativo, aquele que paga as despesas das autoridades com o nosso dinheirinho. Em quatro anos, Mourão devorou R$ 4.195.038, 16. Nada mal para quem, como vice-presidente, já tinha casa, comida, roupa lavada, serviçais, gasolina, aviões e hotéis pagos, além de 40 seguranças.

Purgando o longo tempo perdido, nosso caro Mourão prestigiou delicatessens, confeitarias, peixarias, padarias e adegas gourmet. Um almoço no chiquérrimo Gambrinos, em Lisboa, custou-lhe —custou-nos— R$ 1.043,00. E foi um fiel cliente de lojas de móveis, de manutenção do lar, material esportivo, bicicletas e até de sementes, mudas e insumos.

Para Mourão, os indígenas, de que ele se diz originário, são "indolentes". Pelo visto, há exceções.

Hamilton Mourão e Bolsonaro no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino - 24.fev.21/Reuters

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