Falei ontem dos 30 filmes que Steven Spielberg rodou com música de John Williams, marca comemorada há pouco, e disse que não havia muito de excepcional nisso. No regime em vigor no cinema americano dos anos 70 para cá, todo filme é uma produção independente, com elenco e equipes contratados só para ele. O dono do filme, seja o diretor ou o produtor, pode trabalhar com quem quiser e, com isso, surgem parcerias fixas, como Spielberg e John Williams. Mas há outras.
Woody Allen fez até mais. Trabalhou com quase a mesma equipe em dezenas de filmes: Dick Hyman como diretor musical (foi ele quem selecionou, por exemplo, as fabulosas gravações originais que se ouve em "A Era do Rádio"), Santo Loquasto como designer de produção, Juliet Taylor como arregimentadora de elenco e muitos mais. Sem falar nos produtores Robert Greenhut, Jack Rollins e Charles H. Joffe. Os dois últimos não só descobriram Woody quando ele ainda fazia stand up como o convenceram a dirigir e produziram quase 50 de seus filmes até 2010.
Entre 1982 e 1992, Woody fez também 12 filmes com Mia Farrow, entre os quais alguns dos melhores de ambos, como "A Rosa Púrpura do Cairo", "Hannah e suas Irmãs" e "Setembro". Mas é duvidoso que, desde 1993, qualquer dos dois reveja o que fizeram —Woody, por nunca assistir aos próprios filmes, e Mia, por ter dedicado sua vida desde então a odiar Woody e a mentir sobre ele.
Outros casais foram mais felizes no cinema: Federico Fellini fez sete filmes com Giulietta Masina; Jean-Luc Godard, oito com Ana Karina; Ingmar Bergman, 10 com Liv Ullmann. Não é pouco. Claro que nenhum deles supera Elizabeth Taylor e Richard Burton: eles estrelaram 11 filmes juntos. Na verdade, os produtores só queriam saber de Elizabeth, porque Burton chegava de porre, esquecia as falas e cuspia nos câmeras. Mas Elizabeth o impunha como seu galã.
Só podia ser amor.
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