Uma história absurda chegou a um fim lógico: a retirada da acusação contra o ator americano Alec Baldwin, 65 anos. Baldwin foi denunciado por um tiro acidental, mas fatal, contra a cinegrafista Halyna Hutchins, 42, no set de filmagem do faroeste "Rust", no Novo México, em 2021. Era uma cena em que ele devia disparar sua arma na direção da câmera, como já se fez milhões de vezes no cinema. As balas são, claro, de festim, e assim tem sido desde 1903, quando George Barnes atirou no olho da câmera no pioneiro western "O Grande Roubo do Trem", de Edwin S. Porter. Porter era também o câmera e, fosse uma bala de verdade, ele a levaria na testa.
Não se sabe como, as balas no revólver de Baldwin eram de verdade. Halyna morreu no ato e o diretor Joel Souza também foi atingido. O revólver fora entregue a Baldwin pelo técnico encarregado das armas e munições, e ele ainda ouviu do assistente de direção que a arma estava "fria", ou seja, sem cartuchos reais. Ao grito de "ação", atirou e deu-se a tragédia. Halyna parecia destinada a uma bela carreira. Mas o destino não quis saber.
A produção foi paralisada e os promotores do Novo México sustentaram que Baldwin, antes de atirar, devia ter se certificado de que a arma era segura. Mas isso é uma maluquice. Numa equipe de cinema, atores são atores e técnicos são técnicos. Se os atores não confiarem nos técnicos, como podem rodar cenas em que, às vezes, disparam-se centenas de tiros em menos de um minuto? Como ficariam 90% dos filmes de hoje, em que o cinema parece ter se reduzido a uma extensão da indústria de explosivos?
"Somos atores. Não somos caubóis de verdade", disse um colega de Baldwin. Exato. Nem mesmo John Wayne era um caubói de verdade. Humphrey Bogart não era um gângster de verdade. Harrison Ford não é Indiana Jones de verdade.
O cinema não é de verdade. Mas a Justiça tem de ser.
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