Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro
Descrição de chapéu Rússia

Os outros planos do destino

A morte poupou Halyna de assistir à demolição de seu país

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Na eterna tarefa de organizar recortes em pastas, saiu-me uma coluna que escrevi há pouco, "A morte cedo demais" (1/11/2021), em que tratei da morte de Halyna Hutchins, a diretora de fotografia atingida por um tiro acidental disparado pelo ator Alec Baldwin durante uma filmagem. Halyna tinha 42 anos, mas só então despontava em Hollywood. Para todos, sucesso e fama a esperavam como diretora. Mas o destino, na forma de um Colt 45, tinha outros planos.

No texto, lembrei grandes artistas que, como ela, não viveram para ver sua consagração porque a morte os carregou antes: a romancista inglesa Jane Austen, que levou 200 anos para estourar em vendas; Manuel Antonio de Almeida, que escreveu "Memórias de um Sargento de Milícias" aos 20 anos e morreu aos 30, num naufrágio; Franz Kafka, claro; o sambista Vassourinha e os jazzistas Jimmy Blanton e Charlie Christian, pouco mais que adolescentes; James Dean, às vésperas do estouro; e Newton Mendonça, coautor de "Desafinado" e "Samba de uma Nota Só", que nunca viu o sucesso mundial da bossa nova.

Ao ler a crônica, outros me vieram à cabeça: o romancista francês Raymond Radiguet, morto em 1923 aos 20 anos, pronto para se imortalizar com seu romance "Com o Diabo no Corpo"; F. Scott Fitzgerald (1896-1940), que, em vida, passou da total glória ao oblívio idem sem saber que seria triunfalmente reabilitado; George Orwell (1903-50), que nunca imaginou como o personagem "Grande Irmão", de seu romance "1984", lançado meses antes de sua morte, se tornaria uma sinistra instituição mundial; e o próprio Ian Fleming (1908-64), que acharia graça se lhe dissessem os milhões que a marca 007 --Bond, James Bond-- logo passaria a valer.

E só agora me dou conta de que Halyna Hutchins, radicada nos EUA, era ucraniana.

A bala daquele Colt 45 impediu também que ela assistisse ao que, dali a três meses, a Rússia faria com seu país.

A cineasta ucraniana Halyna Hutchins, morta em outubro de 2021 - Via Reuters

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