Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Queridas tarântulas

Um dos monstros mais terríveis do cinema é um bicho inofensivo e em perigo de extinção

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Leio no Estadão que o Brasil tem 364 animais em risco crítico de extinção, entre eles a ararinha-azul, o pica-pau-amarelo e uma perereca. Mas um que me tocará particularmente se desaparecer é a tarântula, o nono dos dez mais em perigo. Talvez porque, depois de décadas fazendo mau juízo das tarântulas, só há pouco reconciliei-me com elas e passei a vê-las com grande ternura.

Minha geração perdeu noites de sono depois de assistir a "Tarântula!", um filme de 1956 em que uma tarântula de laboratório, exposta a um nutriente descoberto por um cientista, cresce, foge para o deserto e, do alto de seus 30 metros, começa a matar quem se aventura por ali. Descrita como o animal mais cruel e mortal da Terra, a tarântula é baleada, eletrocutada e explodida, mas nada consegue detê-la. Só é finalmente destruída quando um avião asperge sobre ela uma substância então recém-inventada, chamada napalm. Exato: o mesmo napalm que os EUA despejariam dez anos depois sobre o Vietnã.

"Tarântula!" era um daqueles típicos filmes trash dos anos 50, estrelando cérebros gigantes, lagartos, formigas, sanguessugas, amebas, lagostas e bolhas assassinas e bestas com 1 milhão de olhos. Seu diretor era Jack Arnold, autor dos melhores exemplares do gênero, "O Monstro da Lagoa Negra" (1955) e "O Incrível Homem que Encolheu" (1958). No elenco, todo de atores-B exceto pelo hitchcockiano Leo G. Carroll, quem está sob a touca de piloto do avião do napalm? O estreante Clint Eastwood.

Descobri com atraso que, na vida real, a tarântula não tem nada de mortal ou cruel. É uma coisa pernalta e peluda, mas inofensiva, sem veneno e que, se assustada, defende-se expelindo a penugem que, em contato com a pele humana, provoca no máximo urticária. Nós é que a estamos expulsando de suas tocas e fazendo-a tomar as estradas, onde é atropelada.

Ou capturada para servir de, acredite, animal doméstico.

Poster original de ‘Tarântula’, filme de Jack Arnold, de 1956
Poster original de 'Tarântula', filme de Jack Arnold, de 1956 - Reprodução

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