Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Tesouro da música brasileira quase perdido

Quem jogou no lixo os manuscritos, partituras e shows gravados de Elton Medeiros? Foi o Brasil

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Há anos, numa noite estrelada no Leblon, Elton Medeiros, compositor, cantor, intelectual do samba e grande sujeito, me disse que tinha em sua casa, em fitas cassete, muitas parcerias inacabadas com Cartola, esperando pelas suas letras. Perguntei a Elton: "O que falta então para você botar as letras?". E a resposta, na lata: "Falta o Cartola." Elton não admitia que, sem a presença física de seu mestre, morto em 1980, ele tivesse direito àquele material. É uma opinião respeitável, e não sei se muitos de seus
colegas fariam igual.

O cantor e compositor Elton de Medeiros no show 'Estou falando de Elton Medeiros' no Sesc Vila Mariana, em São Paulo - Ze Carlos Barretta - 3.jul.13/Folhapress

Esses cassetes e muito mais —manuscritos, partituras, shows em VHS, registros de sua carreira e até os óculos de Elton— foram resgatados há dias da lixeira do prédio onde ele morava, em Copacabana, pelo síndico do edifício. Tinham sido jogados fora, não se sabe por quem, no processo de desocupação do imóvel. O síndico, seu amigo e de sua turma, repassou tudo para o cantor Chico Alves. Ao examiná-lo, Chico encontrou outras fitas, com músicas que Elton recebera de Paulinho da Viola, Candeia, Monarco e Nelson Cavaquinho, também para serem letradas. Esse tesouro deverá ir para o Instituto Moreira Salles.

Elton, que morreu em 2019, aos 89 anos, teve uma carreira extraordinária. Foi trombonista de gafieira, autor de shows, criador do bloco União do Amor, do rancho Flor do Sereno e de grupos de samba como A Voz do Morro e Os Cinco Crioulos. E co-autor de maravilhas como "O Sol Nascerá", "Rosa de Ouro", "Mascarada" e minha favorita, "Pressentimento".

Ele próprio deixou muita coisa apenas começada, letras e/ou músicas que viriam enriquecer a música brasileira. E, se alguém perguntar por que esse material não é distribuído para uma plêiade de sambistas e letristas para ser completado, é porque sempre faltará o principal. Faltará Elton Medeiros.

Quanto a quem jogou fora suas coisas, é fácil responder. Foi o Brasil.

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