Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Vamos ao cinema?

Era o que se dizia depois de consultar os anúncios dos filmes nos jornais, cada qual mais absurdo e exagerado

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Nem foi há muito tempo. Quando as pessoas ainda saíam de casa para ir ao cinema, escolhia-se o filme pelos anúncios no segundo caderno. Eram minipeças de propaganda que já vinham prontas dos estúdios com textos para torná-los imperdíveis, mas tão exagerados que mal tinham a ver com os filmes. Há dias, herdei uma coleção deles, de filmes dos anos 1940 a 1960. Algumas amostras:

"Sobre seu corpo divino, a renda negra estendia tentações e perigos! Mesmo nos braços do seu amado, ela sentia pairar sobre sua cabeça a terrível ameaça daquela voz macia e sádica! ‘A Teia da Renda Negra’, com Doris Day". "Ele desejava a noiva e a fortuna do amigo... e para possuí-las teria que cometer um crime perfeito!... ‘O Sol por Testemunha’, com Alain Delon". "Sabotado! Censurado! Vetado! Explode agora nas telas brasileiras uma das mais belas histórias de amor! ‘A Aventura’, de Michelangelo Antonioni".

"Diferente de tudo que você já viu! O filme que fará você tremer na poltrona e exclamar: ‘Mas... que mundo cão!’ Mulheres lavando homens em banhos públicos japoneses! Porcos mais valiosos que bebês, amamentados por mulheres! Hetairas que desfilam seus encantos à luz do dia! ‘Mondo Cane’!". "Que espécie de monstro ele se tornou ao ingerir o Coquetel Drácula? Jerry Lewis é ’O Professor Aloprado’".

"O mais lindo animal do mundo! Em certa ocasião, Maria pareceu-me uma dama esquisita. Agora vejo que tem o corpo de um animal... Vive como um animal... É um animal!... Ava Gardner é ‘A Condessa Descalça’". "Nunca houve um homem como meu Johnny! Homem como todos os homens... Atirador com o demônio em seus olhos... Mas quando ele tomava-me em seus braços... Joan Crawford em ‘Johnny Guitar’". "Casablanca... Ninho de intrigas... antro de maldade... Onde cada beijo poderia ser o último e onde muito se amava e muito se pecava porque a vida pouco valia... Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, em ‘Casablanca’".

Hoje o Procon veria nisso publicidade enganosa. Os filmes continuariam maravilhosos do mesmo jeito.

Pequenos cartazes de propaganda, feitos para os jornais, dos filmes ‘Mundo Cão’, ‘Casablanca’ e ‘Johnny Guitar’
Pequenos cartazes de propaganda, feitos para os jornais, dos filmes 'Mundo Cão', 'Casablanca' e 'Johnny Guitar' - Heloisa Seixas

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