Outro dia, revi "Casablanca". E, de novo, perguntei-me como seria se a Warner tivesse escalado Ronald Reagan como Rick Blaine, papel afinal imortalizado por Humphrey Bogart. O abismo entre Bogart e o jeito empada de Reagan faz quase duvidar que tivessem pensado nisso. Mas não seria o único filme em que um personagem destinado a alguém parou em outras mãos.
O papel de Norma Desmond em "Crepúsculo dos Deuses" foi oferecido primeiro a Mae West. Mae o recusou e abriu o espaço para Gloria Swanson. O da mulher enigmática e fatal em "Um Corpo que Cai" foi escrito para Vera Miles, uma das admirações de Hitchcock. Mas Vera estava grávida e quem entrou? Kim Novak. Falando em Hitchcock, ele queria Grace Kelly em "Marnie, Confissões de uma Ladra". Mas Grace alegou que não ficaria bem a princesa do Mônaco viver uma ladra de joias. Já "Tippi" Hedren não viu nada de mal nisso.
Doris Day teria sido fascinante como a sedutora Mrs. Robinson em "A Primeira Noite de um Homem". Mas seu marido e agente Marty Melcher achou a trama "indecente" e nem lhe mostrou o roteiro. Na vida real, Melcher era um hipócrita, e Doris nunca foi a virgem em que a transformaram —ela talvez tivesse aceitado. Anne Bancroft substituiu-a e deu um show. E a dupla de "Perdidos na Noite", Jon Voight e Dustin Hoffman, quase não aconteceu. Nos respectivos papéis, o diretor John Schlesinger sonhava com Elvis Presley e Sammy Davis, Jr. Ficou no sonho.
Warren Beatty, produtor de "Uma Rajada de Balas" ("Bonnie & Clyde"), pensou em Bob Dylan como Clyde, acredita? Voltou a si e escalou-se ele próprio no papel. E, pode crer, Warren queria Jean-Luc Godard como diretor. Mas até Godard achou a ideia insana e recusou-a, daí Arthur Penn.
Ah, sim, Reagan em "Casablanca". Nunca houve essa possibilidade. Foi só uma fake news que a Warner plantou na imprensa para promover sua empada.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.