Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Descrição de chapéu STF Twitter

STF abate pardais com tiros de canhão

Suspender o X é medida radical que solapa a liberdade de informação e em nada contribui para resolver o problema

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"Abater pardais com balas de canhão" é uma metáfora sobre tentar resolver problemas com força desproporcional. É assim que o STF tem agido nos últimos anos.

Na mais recente decisão monocrática de Alexandre de Moraes, a rede social X foi suspensa no país. Quem tentar acessá-la por meio do software VPN pode receber multa diária de R$ 50 mil.

Um homem careca, vestido com uma toga preta e uma gravata, está sentado em um tribunal. Ele está olhando para a frente e levantando um dedo indicador em direção ao rosto, como se estivesse limpando uma lágrima ou ajustando os óculos. O fundo é composto por cortinas vermelhas.
O ministro do STF Alexandre de Moraes, que suspendeu a o X (ex-Twitter) no Brasil - Evaristo Sá - 22.jun.23/AFP

Um descalabro inaudito por aqui. O Brasil agora faz parte da lista de nações autoritárias que baniram a plataforma, como China, Irã, Coreia do Norte e Rússia.

A gama de dados divulgados pelo X é descomunal, indo de piadas, vídeos de gatos e fotos de comida até notícias, artigos científicos e mobilizações contra ditaduras —como a Primavera Árabe.

Líderes internacionais se comunicam pelo X e jornalistas usam a rede social como fonte.

Assim, Moraes atenta contra princípios da democracia que se arvora a proteger. A liberdade de expressão não é absoluta, como provam crimes como o de calúnia, que são julgados caso a caso.

O que o STF faz agora, contudo, é uma espécie de punição prévia a granel —o X tem mais de 20 milhões de usuários no Brasil. Não só limitou-se a livre expressão de ideias, mas a liberdade de informação. É gravíssimo. Não se trata mais do conteúdo das mensagens, mas do mero acesso a elas.

Segundo o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, a liberdade de expressão "inclui a liberdade de, sem interferência, procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras".

Alega-se que a medida de Moraes, vergonhosamente apoiada por seus pares na Corte e até por parte da imprensa, é correta pois o X descumpriu ordens —oriundas de um inquérito opaco e interminável, o das fake news.

Mas infringir a liberdade de informação dos brasileiros é a única medida possível? Não haveria recursos menos radicais?

O STF está fora de controle e se deixando levar por uma polarização política passional que em nada serve para resolver os problemas do Brasil; na verdade, os cria.

A democracia não precisa de tiros de canhão, mas da autocontenção do tribunal que tem a missão de proteger as liberdades expressas na Constituição.

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